Eric Clapton ― envelhecendo como um bluesman

Diogo Salles, Digestivo Cultural

"Falar em "melhores da década" é um tema amplo demais. Como não quero ficar atirando para todos os lados, prefiro colocar essa pauta num plano mais fechado. Em diversos textos que escrevi aqui, procurei analisar o cenário musical de diferentes maneiras, mas todos eles tinham um ponto de convergência: essa primeira década do milênio foi de uma pobreza musical quase inverossímil. Pelo menos no que tange o mainstream. Em minhas intermináveis discussões musicais com Rafael Fernandes, vivo insistindo que não houve renovação no rock desde a derrocada do grunge. Parece ter se segmentando ainda mais e formado novos guetos no heavy metal para os xiitas se acotovelarem. Já o pop nem se fala: parece ter morrido antes mesmo de Michael Jackson ― e do que restou, só o resto mesmo: a mesma porcaria venal e pasteurizada de sempre. No rock clássico, alguns se reciclaram, outros seguiram adiante e boa parte se aposentou (embora a maioria ainda não saiba disso). Entre mortos e feridos, eis o que eu queria dizer: para mim, Eric Clapton foi o músico da década. Músico e guitarrista.

Tudo bem, sei que é fácil ser o melhor músico numa década em que qualquer sinal de virtuosismo é visto como "ultrapassado" e ser medíocre é "cool". Mais fácil ainda é ser o maior guitarrista numa década em que Jack White é ovacionado como o guitar hero dessa geração. Pode funcionar para quem só quer pagar de "descolado", mas a crítica musical, que disseminou esse espírito de manada pró-Jack White, parece ignorar que Clapton ― além de ser infinitamente mais importante ― foi o artista mais prolífico dos últimos dez anos. Não é só a maneira de tocar, é o timbre, é a voz (cada vez mais rouca), são os shows, as parcerias, é o partido artístico de uma forma geral. Eric Clapton parece ser uma espécie de Clint Eastwood do rock n' roll: quanto mais velho, melhor fica. Parece envelhecer como os bluseiros que tanto o inspiraram. Ícone musical e guitarrista prodígio dos anos 1960, ele se afogou no álcool e nas drogas nas décadas seguintes, até ressurgir sóbrio no excelente álbum Journeyman (1989) e explodir comercialmente com Unplugged (1992). Chegados os anos 2000 ― e já não tendo de provar mais nada a ninguém ―, Clapton resolveu fazer um mergulho profundo em si mesmo, realizando todos os seus sonhos musicais, indo buscar suas raízes e, de quebra, reconstruindo sua vida pessoal. Então vamos deixar a crítica lá, jogando capim para os búfalos. Aqui, vamos reconstituir o caminho do Slowhand nos últimos dez anos.”
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