Literatura & amnésia histórica

Hoje as artes e a literatura estão expostas a um perigo diferente: não se veem ameaçadas por uma doutrina ou um partido político, mas sim por um processo econômico sem rosto, sem alma e sem rumo”

Márcia Denser, Congreesso em Foco

Refletir sobre a situação atual da Literatura não deixa de ser uma operação essencialmente política, tantas as mediações envolvidas. De forma que, inspirada por umas leituras de Octávio Paz, tentei articular algumas características que marcam a Literatura no início do século 21:

- O deslocamento dos estudos humanísticos que deixaram de ser o centro dos sistemas educativos; o cientificismo que leva o discurso da física, da química ou biologia a domínios como a história e as ciências humanas. Por exemplo, deixar de ler a Odisséia como texto literário, para ler como relato histórico ou reportagem etnográfica, é como estudar mineralogia na Catedral de Chartres (que, entre outras coisas, é feita de pedras);

- Fora da universidade, a tradição poético/literária é corroída pela hipertrofia da indústria editorial que, aliada à publicidade, converteu em mercado financeiro o intercâmbio de idéias, valores, gostos e opiniões. O mundo literário sempre foi um comércio de bens materiais e espirituais, livros são objetos, mas principalmente objetos simbólicos, porque veículos de idéias e formas estéticas;

- A indústria editorial tende a dissolver a diversidade de públicos em massa. E isso não é deliberado, mas algo inscrito na própria natureza do sistema de produção. O mercado editorial é movido apenas por considerações econômicas – o valor supremo é o número de compradores. É bom ganhar dinheiro, bem como produzir para um grande público, mas nesse processo, infelizmente, a literatura morre e a sociedade se degrada se o propósito básico é a publicação de best-sellers, obras de entretenimento e de consumo popular. E a História da Literatura no Ocidente, sobretudo na Idade Moderna, tem sido a das minorias: escritores rebeldes, críticos da ordem estabelecida, poetas e romancistas inventores de novas formas, artistas herméticos e difíceis. A lógica do mercado não é da literatura;”
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