A dona da casa

Menalton Braff, Revista Bula

“O silêncio é sua escuridão, por isso viver tornou-se um exercício diário, meticuloso, em que tateia com os pés o piso frio da cozinha, não vá acordar a mãe. Desde o divórcio, vem apalpando a medo os dias e os vazios na consciência da velha mãe, com quem decidiu morar, aproveitando uns restos de responsabilidade familiar. Nossas velhices são amparos mútuos, dizia às vezes, em tom de brincadeira, pois sabe-se tão jovem que nem chegou a pensar ainda em aposentadoria.

Depois de abrir a porta dos fundos, costumava entrar pela cozinha, enfia a mão no espaço escuro, acende a lâmpada e entra com silêncio de ladrão experiente. É preciso fazer um lanche para poder dormir. Lava as mãos sujas de giz na torneira da pia e, mesmo sem enxugá-las, põe a frigideira untada de óleo sobre o fogão. Um ovo mexido com pão é tudo que sua mente cansada e o estômago vazio ambicionam.

Quando o grito estremece o ar iluminado da cozinha, Isaura olha assustada para trás.

− Vagabunda!

A guedelha revolta e toda ela amarrotada pela cama, sua mãe aparece estátua na porta completamente viúva. Isaura não deixa de mexer o ovo na frigideira, fingindo não ter ouvido o insulto, mas sua cabeça baixa permite um olhar de esguelha, por cima do ombro, tendo a mãe como alvo.

− Sua porca vagabunda. Pensa que eu não sei? Meu dinheiro, sua ladra, devolva meu dinheiro. Roubou meu dinheiro pra sustentar aquele animal. Vamos, estou esperando. Você não está ouvindo? Quero meu dinheiro de volta.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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