Fronteira sangrenta

Mauro Santayana, JB Online

“O massacre de San Fernando, junto à fronteira dos Estados Unidos, é mais um movimento da guerra que os traficantes de drogas e de pessoas movem contra o Estado, no México. Os historiadores conseguem ver melhor os fatos atuais, porque encontram, na perversidade das circunstâncias, a origem do duradouro sofrimento do grande povo.

Apesar de sua proximidade com o país que simboliza o cimo da civilização moderna, ou por isso mesmo, o México constitui, com sua cultura, o contraponto à conquista europeia. Mais do que em outros países da América Latina, os mestiços conseguiram alçar-se ao poder político e econômico, desde a independência. Já no século 19, os descendentes dos astecas e de outras etnias nativas da América assumiam papel relevante na política mexicana. Grandes homens públicos – não obstante sua formação de fundo universal – mantiveram, geração após geração, a consciência de seus próprios valores, de sua própria forma de ver o mundo. No México, a presença de sangue indígena constitui razão de orgulho. A dupla alma mexicana – a autóctone, com suas profundas raízes na pré-história do continente, e a ibérica – mantém, com os Estados Unidos, relação difícil. A geografia os condenou à vizinhança, mas não se pode afirmar que sejam povos amigos. Os Estados Unidos roubaram-lhe a maior parte do território, em uma guerra injusta e desigual e, no fundo de cada mexicano que conhece a história, permanece a mágoa e o sonho de retomar o vasto espaço usurpado.

O novo e complicado fator de conflito é o consumo de drogas, essa peste moderna, que ameaça a coesão das sociedades políticas. Como a dialética não é mero jogo da razão, mas a sua essência, a popularização do uso dos narcóticos se deve aos Estados Unidos, nação criada em raro instante de grande inteligência política, e com suas sementes na seita dos convenants do puritanismo britânico.”
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