Revendo Dogville

É bom avisar: isto não é crítica de cinema, antes uma exposição de motivos pelos quais alguma coisa neste filme me tocou fundamente”

Márcia Denser, Congresso em Foco

Zapeando na tevê a cabo domingo à noite, revi Dogville, produção de 2003 dirigida por Lars von Trier, em reprise no Telecine Cult. Antes do filme, o crítico Marcelo Janot lembrou que o diretor fez parte do Dogma 95, movimento do cinema europeu que postulava o retorno ao “filme puro”, com pouca ou quase nenhuma produção, cinema que se sustentaria pela força do texto e da dramaturgia, Embora aqui se possa argumentar que sustentado por texto e dramaturgia, ele não se sustentaria como cinema, a proposta vale, porque surgiu precisamente como reação ao excesso de produção - efeitos especiais, explosões e zero de substância – que saturou a filmografia recente, sobretudo norte-americana.

Um filme sem cenários, apenas marcações a giz no chão e três horas de duração, mesmo com atores excepcionais, precisa ter uma história realmente muito boa para segurar o espectador, no caso, uma espectadora como eu, devoradora massiva e entediada de ficção; só uma tremenda história – mais que uma história, uma história com uma essência emblemática – aliada a uma narrativa magistral (ambas não são a mesma coisa: história é o plot, o enredo, narrativa é a forma como é contada, como se desenrola no tempo e espaço). No entanto, a não ser por um final que absolutamente não cola, uma descarada concessão ao esquema comercial da indústria, Dogville tem os dois.

Mas é bom avisar: isto não é crítica de cinema, antes uma exposição de motivos pelos quais alguma coisa neste filme me tocou fundamente. Porque a coisa começa sempre com uma emoção – funda, intermitente – mas ainda indizível (escritor nunca sabe o que quer dizer, escreve justamente para ficar sabendo), por isso é preciso escrever caçadoramente, perseguir o indizível, obrigá-lo a dar o serviço.

Então, é preciso começar a contar pelo mais difícil, mais chato, pelo servicinho do capeta que é recontar por escrito algo que se contou em imagens. A história acontece durante a Depressão, anos 30. Dogville é dessas cidadezinhas natimortas na periferia do mapa dos Estados Unidos com apenas quinze habitantes. Paul Bettany, filho do médico, é um jovem aspirante a escritor e filósofo, que tem por hábito reunir os vizinhos na igreja local propondo questões para a coletividade, tipo, por que Dogville tem problemas em receber presentes?”
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