Cansei

Beócios dizem a néscios o que devem comer e beber. E a turba de seguidores cresce a cada segundo

Marcio Alemão, CartaCapital

Sou ruim com datas. Por isso não sei dizer em que ano escrevi minha primeira coluna para o JT, o Jornal da Tarde. Lembro-me bem do que escrevi: “Comida da moda. Existe isso?” Se não consigo precisar a data, posso afirmar que mais de 20 anos se passaram e eu continuo achando isso bem esquisito. Mas cá estamos, mostrando um interesse fora do comum por tudo que está na moda. Melhor não generalizar? Também prefiro, até porque conheço o leitor de Carta e sei que ele não se identifica com os desesperados caçadores de tendências.

A má notícia é que eles estão à solta e se multiplicando de maneira, diria eu, nociva. Quase resignadamente não me espanta que sejam cada vez mais numerosos. Pensar e escrever bem é tarefa rara, que poucos desenvolvem com talento. É muito mais simples escrever frases breves e contundentes: “Preste atenção nos brancos do norte da Mongólia. Espumas? Só se forem do mar! Azeite trufado? Você deve estar brincando, né? A nova aposta está no sertão mineiro”.

Não me seduz esse tipo de escrita, mas quem sabe seja essa a nova… tendência da mídia. São frases boas para “tuitar”. Boas para compartilhar em redes sociais. Cada uma delas gera profunda reflexão e reações notáveis: Uhahahahahahahah! Hiiiiiiii! kkkkkkkkk! blzzzzz. wowwow?
huhuhuuuuuuuuuuuuu! A turba de néscios que tendem a obedecer e seguir essas ideias, lamento dizer, cresce a cada segundo.
Eu cansei.
Não que em algum momento tivesse sido seduzido por esse tipo de sugestão.
Cansei de ver beócios dizendo aos citados néscios o que eles devem gostar de comer e de beber. Paro na comida e bebida por ser meu assunto, mas essa gente é capaz de colocar os filhos para adoção se algum trendsetter disser que isso é a coisa mais bacana a se fazer hoje.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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