Matar é com a gente mesmo


Eberth Vêncio, Revista Bula

“Não se compreende a maldade humana. Estudiosos debruçam-se sobre livros e compêndios, derretem as retinas defronte os computadores, testam drogas e dúvidas nos dadivosos ratinhos de laboratório sem, no entanto, concluírem a respeito da natureza humana ruim. Culpar o diabo não soma. É fuga, subterfúgio, enganação. Imagine só: que animal se deita à noite maquinando contra a vida de outro?

As pessoas simplesmente se indignam com a ruindade dos seus pares, criaturas promotoras da dor física e moral. Tolos vão debitando o ônus da própria ignorância na conta de um ser supremo que é ovacionado das mais variadas formas pelas agremiações religiosas, muitas delas arrogantes, detentoras da “verdade absoluta”. Se há mesmo o pecado, se ele não passa de mera invencionice humana para o autocontrole, a intolerância será o pior deles.

Dois animais impopulares inspiraram em mim esta crônica. Ontem, na boquinha da noite, quando eu corria pela pista que margeia uma bela lagoa da cidade, pelejando contra a “barriguinha de jibóia”, deparei com duas moçoilas apavoradas por causa da presença de um sapo no caminho (no meio do caminho tinha um sapo, tinha um sapo no meio do caminho). O lerdo, porém, esperto animal fazia tocaia debaixo de um mini-poste de iluminação, capturando com sua língua pegajosa um farto banquete de insetos que por ali sobrevoavam em busca da luz. Ora, vejam: não só os homens buscam a luz, mas também as aleluias, os besouros e os sapos feios.

A desmedida reação das poposudas siliconadas (elas clamavam que alguém trucidasse aquele pobre anfíbio) reacendeu na minha memória uma cena da infância, quando eu assistia ao meu avô liquidando sapos com um arpão improvisado (um arame grosso amarrado na ponta de um cabo de vassoura). Recomendações da minha avó: onde tem sapo, tem cobra também. Portanto, melhor acabar com eles e se proteger da peçonha.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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