Mulher no comando do país! E agora?

Débora Carvalho, Digestivo Cultural

"Já não basta comandar o fogão, a educação dos filhos, o orçamento doméstico, as salas de aula... Elas foram se infiltrando no trabalho ― depois de sofrer muito preconceito por serem consideradas incapazes. E agora, no Brasil, a primeira presidenta. Me lembro da sacada que ela teve ao puxar para si os votos de Marina Silva, no segundo turno, dizendo que mais da metade da população manifestava o desejo de ver uma mulher na presidência...

Me lembro também que, antes dos meus 9 anos de idade, foi a vez da Luiza Erundina. O fato de ela ser mulher e prefeita virou motivo de chacota nos corredores do condomínio, e até mesmo em casa - entre os amigos do meu pai.

― Onde já se viu uma mulher na prefeitura de São Paulo? Vai afundar a cidade. Lugar de mulher é no fogão.

E, depois de um tempo, todo mundo reclamava da buraqueira no asfalto. "Os buracos da Erundina." E eu percebia até um pouco de maldade, sem entender direito o que significava (como quando alguém diz uma coisa querendo dizer outra mas você não entende o contexto porque não conhece a palavra, mas nota algo no tom de voz). Pirralha ainda, eu não entendia o contexto nem o conceito.

Minha família, à moda dos tempos das fazendas, é bem grande. Primogênita de seis, tenho quatro irmãos e uma irmã. Eles destruíam minhas bonecas e eu ajudava. Minha mãe conta que quando eu era bebê, não podia ver uma boneca que abria a boca a chorar - morrendo de medo, quase apavorada. Então, eu brincava com meus irmãos de carrinho, de bolinha de grude, de fazer e soltar pipa, de futebol no meio da rua. As pessoas comentavam. Uma vez ouvi uma senhora criticando minha mãe por permitir que eu brincasse de bola com meus irmãos e os amiguinhos deles.

Por outro lado, assim como eu aprendi a cozinhar bem cedo, todos os meus irmãos também aprenderam. Casados, eles é que ensinaram as esposas a melhorar o desempenho no fogão. No entanto, isso também era visto de modo estranho por algumas pessoas.

Interessante como quando a gente é criança escuta conversa de adulto e não entende direito, mas sabe que tem algo misterioso... Depois que cresce e aprende o significado daquelas palavras desconhecidas, cai a ficha. ("Cai a ficha"? Isso não existe mais. Bem, poderíamos substituir a expressão por algo tipo "fazer o download", mas eu ainda sou do tempo do orelhão de ficha, que existiu até os meus 18 anos.)”
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