O jornalismo e a pinga, uma combinação explosiva

Lucia Faria, Portal IMPRENSA

“Álcool e jornalismo sempre andaram lado a lado. Quem não tem histórias para contar sobre porres de colegas na redação ou nas redondezas do jornal é porque nunca trabalhou nesse ambiente. A velha guarda tem ainda muito mais casos. Todos deliciosos, de uma boemia nada ingênua, mas romanceada na cabeça de muitos.

O fotógrafo mais engraçado com quem trabalhei era um desses. Largava a gente na entrevista e ia dar uma volta. Gordo e branco, voltava com as bochechas vermelhas. Era sempre divertido e não se cansava de ajudar os focas. Pelo menos a mim. Já na redação, o editor de Internacional saia pouco para a rua após 18h, pois sua atenção maior naquele tempo estava na sala de telex. Então, para otimizar o tempo, como se diz hoje, deixava a garrafa de pinga embaixo da mesa. O fechamento, para ele, era literalmente um porre. Ambas os personagens já partiram para o outro andar, mas os amigos não se cansam de relembrar histórias.

Eu mesma já tive de admitir a minha editora que estava sem condições de escrever uma reportagem devido ao elevado grau etílico. Justifico. A pauta era sobre produção de vinhos caseiros. Fui à casa de uma búlgara que, além de preparar uma mesa farta com comida típica de seu país, me "obrigou" a experimentar boa parte de sua produção da bebida. De volta à redação, abri o jogo para a chefia. Era melhor deixar o texto para o dia seguinte.

Também percebi que o assunto de toda segunda-feira, principalmente entre os rapazes, era sobre os porres do final de semana. Cada um se vangloriava de ter bebido mais que o outro, como se fosse uma competição para saber qual fígado era o mais resistente. Por sorte o meu sempre foi ruim. Daí, que o fogo de hoje vira o tormento de amanhã.

Hoje as redações mudaram muito e, não muito tempo atrás, vivenciei uma cena oposta. Foi um ex-cliente meu que bebeu além da conta em um almoço de relacionamento com uma jornalista e ficou muito inconveniente. Falava alto no restaurante chique e exagerava nas bobagens. Eu, que não conhecia essa peculiaridade da pessoa, ficava cada minuto mais constrangida. A jornalista odiou, óbvio. O encontro, que era para ser agradável, virou um desastre total.

Como estamos na época de festas de confraternizações, de amigos secretos, das celebrações típicas de final de ano, é bom sempre lembrar: no dia seguinte a gente volta a encontrar as mesmas pessoas. Por isso, cuidado.”

Comentários

Adir disse…
Eloquente o texto sobre coleguinhas de outrora, vivi momentos como esse e jamais achei o fim do mundo, cachaça é cachaça, comparar com o que ocorre hoje, a pinga seria aguardente perto do que rola atualmmente nas imediações das principais redações dos chamados jornalões, as vezes é no aquário mesmo. Vou ficar por aqui...

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