WikiLeaks, o melhor de 2010

Vicente Escudero, Digestivo Cultural

“Quantos furos jornalísticos da última década foram capazes de tornar seus autores inimigos declarados da OTAN? Qual jornal teve seu site atacado por hackers antes de divulgar uma matéria que causaria abalos nas relações diplomáticas dos Estados Unidos e foi ameaçado pelo seu Procurador-Geral de ser processado por infringir o Espionage Act de 1917, que pune a obtenção, troca ou publicação de "qualquer informação relacionada à segurança nacional, com a intenção declarada ou não de causar prejuízo aos Estados Unidos"?

Nenhum. Segundo o governo dos Estados Unidos e a OTAN, não faz parte da imprensa esse pessoal de paradeiro desconhecido, que trabalha editando e publicando na internet informações de fontes confidenciais do mundo todo, escondido dentro de um bunker num país qualquer. Tratando-os como espiões que roubam informações confidenciais apenas para prejudicar terceiros, sem finalidade jornalística e com seu fundador preso depois de ter sido procurado pela Interpol, os maiores prejudicados pela divulgação dos diários da guerra suja no Iraque e dos documentos diplomáticos americanos sobre diversos países tentam de todas as formas desqualificar a competência do WikiLeaks. E que competência! Afinal, sem num curto período de existência o site chegou a cancelar o recebimento de documentos devido ao grande acúmulo de material vindo de fontes do mundo todo, enquanto o resto da imprensa cobria apenas o dia a dia dos escândalos revelados pelo site, a impressão que resta é a de que existe uma certa desconfiança das fontes que buscam o WikiLeaks com a imprensa tradicional.

Sob o ponto de vista dos prejudicados pelos vazamentos, os argumentos que tornam o WikiLeaks um inimigo são quase os mesmos utilizados pelos países rivais durante a Guerra Fria. Argumenta-se que as informações reveladas pelo site colocariam em risco a vida de muitas pessoas, os documentos publicados seriam sensíveis, imprescindíveis para a defesa nacional dos autores e seu caráter sigiloso tornaria criminosa a divulgação. É fácil perceber a fragilidade desta estratégia que se apoia num tripé tão fraco quanto os sistemas de segurança onde estavam armazenados os quatrocentos mil documentos sobre a Guerra do Iraque e os duzentos e cinquenta mil relatórios e telegramas do corpo diplomático americano. Os diários da Guerra do Iraque revelaram diversos abusos do exército e das forças policiais locais, como a conivência dos soldados com a tortura de suspeitos pelos policiais iraquianos e a execução sumária de civis. Vidas em risco? Os direitos humanos devem sempre ceder em estados de exceção? E o que dizer da publicação dos documentos diplomáticos? Uma análise superficial da pequena parcela que foi publicada até agora revela o descompasso entre a política externa americana e os fatos narrados pelos seus correspondentes em terras estrangeiras. Entre eles, destacam-se os pedidos nem um pouco republicanos de Hillary Clinton para que fossem coletados dados particulares de oficiais da ONU, como números de cartões de crédito e dados biométricos, além das informações precisas sobre a situação no Oriente Médio, como a instabilidade do corrupto governo civil paquistanês, pressionado pelo avanço dos militares e relutante com o auxílio do exército americano no combate a Al Qaeda nas regiões tribais do país.”
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