Nem lixo, nem extraordinário

Ademir Luiz, Revista Bula

"Em “Lixo Extraordinário” tudo parece pasteurizado: as emoções, as personagens, a paisagem, a denúncia do desperdício burguês, a mensagem pró-reciclagem. Perfeito para o consumo de nossa elite letrada, repleta de responsabilidade social

Certa vez, do alto de sua sabedoria de Buda etílico, o grande Tim Maia afirmou que o Brasil é o único país do mundo onde cafetão sente ciúme, prostituta sente prazer e pobre é de direita. Piada tão sociologicamente correta quanto politicamente incorreta. Paradoxalmente, quase a totalidade de nossa elite intelectual e parte considerável da elite financeira simpatizam com a esquerda. Essa proximidade ideológica concretizou-se enquanto projeto em 2002, com a eleição de Lula, o que pode ser percebido nas reuniões de bastidores de campanha registradas no ótimo documentário “Entreatos” (2004), de João Moreira Salles.

Ação e reação. Uma vez eleito, Lula passou de aposta partidária para mito vivo e líder carismático weberiano. A mesma massa que não votava em Lula por ele ter sido pobre passou a idolatrá-lo por ele ter sido pobre e se tornado presidente. Daí para o culto a personalidade foi um passo. O filme “Lula, o Filho do Brasil” (2010), de Fábio Barreto, deveria ser o principal subproduto desse culto. Porém, sem ritmo, mal escrito, mal dirigido e interpretado com insegurança, o melodrama fracassou nas bilheterias. Mesmo assim, apostando no prestígio internacional do operário-presidente, uma comissão do Ministério da Cultura resolveu indicá-lo como candidato nacional a uma vaga entre os finalistas ao Oscar de Filme Estrangeiro. Não deu certo. Se a inexplicável parceria de Lula com o insano presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad lhe tirou o Nobel da Paz, a qualidade duvidosa do filme de Barreto lhe tirou o Oscar. E quase tirou o Brasil do Oscar.

Quase porque a coproduçãobrasileira/britânica “Lixo Extraordinário”, dirigida pelo trio Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim, registrando os dois anos em que o artista plástico carioca Vik Muniz trabalhou com catadores do aterro sanitário do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário. Acredito que tem chances reais de vencer, já que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é mais parecida com a Academia Sueca do que se imagina. Filmes bem-intencionados e edificantes são sempre bem-vindos. Além de aliviar o espírito, são bons para os negócios.”
Artigo Completo, ::aqui::

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