À beira da estrada?

Está na hora de parar, sentar e degustar uma boa laranja, a fruta que, infelizmente, virou suco

Marcio Alemão, CartaCapital

Pois, na minha opinião, a laranja de feijoada deveria ser, sempre, a laranja-da-baía. Tem de ter essa personalidade. Lima, nem pensar. Para não sair do tema, colocar lima na feijoada é tirar o John Coltrane e colocar o Kenny G.

Mas, atenção, longe de mim querer comparar uma lima com o Kenny. Nenhuma lima deste mundo merece isso. Eu me refiro à composição, ao conjunto.

Laranja-lima sempre representou um desafio para mim. Tínhamos um sítio e nesse sítio ainda era possível comer fruta de pé franco. Pé franco é aquele que não recebeu enxerto de nenhuma espécie. Sim, leitores amigos e leitoras amigas, o Júnior também atua com determinação e criatividade em outras áreas. Deu de cruzar sementes que geraram coisas extravagantes. Nenhuma aberração, é fato (eu, pelo menos, não tive conhecimento), mas passou a ficar difícil comer uma singela laranja de pé franco. Mexerica, então, nem pensar.

Por conta do tal sítio, que tudo dava em abundância, na época das laranjas elas nos chegavam às caixas. Todo domingo meu avô abria o porta-malas de sua Rural Willys e nós as colhíamos. Isso tem muitos anos. Era o tempo em que a música do Ataulfo Alves, Laranja Madura, fazia sentido. Hoje, quem consegue imaginar laranja madura na beira da estrada?

Chegava a hora do jantar. Todos à mesa. Depois da indefectível sopa de mandioquinha, que marcas profundas deixou em minha vida, e depois de um trivial variado, uma tigela grande com as tais laranjas. E assim começava o espetáculo: ver meu pai descascar as laranjas. O lado bacana era sentir aquela clássica admiração. Poder chegar na escola, encher o peito e dizer com um baita orgulho: meu pai é o maior descascador de laranja do mundo. Sinto não tê-lo feito. Imagino que não encontraria rival para réplica.”
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