Meu dente (quase) caiu

Ana Elisa Ribeiro, Digetivo Cultural

Meu dente caiu é o nome de um livro da fantástica Vivina de Assis Viana. É dessas obras escritas para as crianças e, provavelmente, com alguma especificidade para aquelas que se identificam com o drama dos dentes de leite versus a dentição permanente. "Meu dente caiu" é a frase que toda família escuta quando tem um guri em torno dos 6/7 anos de idade. E o dente cair é sinal de mudança de ciclo.

Na atual crise da queda de dentes pela qual vem passando minha família, resolvi me deter nos sentidos que os dentes têm na nossa batida cultura popular. Não conheço dentistas (além do que trata meu dente protocolarmente), não há odontólogos na família, nem entre os namorados passageiros de primos e tios. Remotamente, há o irmão de uma amiga, mas mal o vi uma ou duas vezes. Então não tenho qualquer cacife para avançar por teorias científicas sobre mordidas e dentes. No entanto, com a vasta experiência de gente que morde, posso arriscar umas lendas dentais.

O menino que eu pari, cirurgicamente, há quase 7 anos, anda babando por todo canto por manter a boca semiaberta, na tentativa vã de segurar o dente de leite na arcada inferior, logo ali, bem na frente do sorriso. Ele não quer que o dente caia, teme que sangre, tem pânico de ficar com as famosas "janelinhas", que, em tese, o deixariam menos lindinho. O curioso é que um dente, o vizinho, caiu faz tempo e já, inclusive, cedeu lugar a um mais robusto e ainda serrilhado. A experiência, no entanto, não bastou para que o garoto perdesse o medo da nova queda dentifrícia.

O primeiro dente caído deveu-se a um esbarrão mais forte num primo mais velho, numa daquelas brincadeiras sacanas e estúpidas que os meninos aprendem mais cedo e melhor do que as meninas. O dianteiro de baixo amoleceu, dependurou-se e ficou por um fio. Uns dias depois, em outra sessão de brincadeiras imbecis, agora com o avô, o guri deu uma mordida no braço do velho e lá ficou o dentão espetado. A situação engraçada, no entanto, abafou qualquer tentativa de crise de choro ou de pânico.”
Ilustração: LIANA TIMM© (http://timm.art.br/)
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