Isso não obsta!

Mouzar Benedito, Revista Fórum / Envolverde

“Antes de viajar para o Nordeste pela primeira vez, eu achava que a palavra acolá existia só nas palavras cruzadas, ninguém falava isso. Mas entre nordestinos vi que não só existe como é muito empregada. O que não existia entre muitos nordestinos eram as palavras ali e lá. Lá era acolá, e ali era acolazinho.

Aprendi muitas novas palavras no Nordeste. Por exemplo: lá não se falava tapete, e sim alcatifa. Um tipo de vaso de barro era alguidar. Pote grande, para armazenar bastante água, era porrão. Ficar bravo era retar, ou ficar retado. Em Barra, no Oeste da Bahia, onde o bispo Cappio protesta contra a transposição do Rio São Francisco antes de recuperá-lo, moça bonita era berlota. Por falar em moça bonita, namorando uma no Ceará fiquei sabendo uma época que “califun caiu de moda”. Califun ou calefon era sinônimo de sutiã.

Com a chegada da televisão, muita coisa mudou, a linguagem foi meio padronizada, embora permaneçam muitas expressões regionais. Mas tem palavras que ― sejam de onde for ― me deixam invocado. Acho besta, por exemplo, cara que quer colocar um pouco de humor num texto e, quando quer dizer de coisas de antigamente, diz “de antanho” ou “dos tempos de antanho”. Não tenho nada contra a palavra antanho, mas acho feia. Assim como acho muito feias as palavras fronha e regozijo.

Muitas palavras eu pronunciava errado de propósito, por achar feia a forma correta, como é o caso de lagarto e lagartixa, que eu e muitos conterrâneos pronunciávamos largato e largatixa.

Lembrei-me agora de pessoas que “descobrem” uma palavra e a acham maravilhosa, mas nem sempre entendem seu significado. Uma história famosa é de um sambista que foi ao velório de um amigo e no cumprimento à viúva disse apenas: “Que coincidência!”. Havia conhecido a palavra pouco tempo antes e achava que era uma expressão de lamento.”
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