Livro prova que filme O Poderoso Chefão não é ficção

Euler de França Belém, Revista Bula

“O dinheiro da Máfia italiana pode ter origem ilegal — como propina e extorsão e o tráfico de cocaína e heroína. Mas parte do capital é lavado por empresas tidas como idôneas. Pode-se dizer que os negócios lícitos são alimentados pelos negócios ilícitos e vice-versa. Uns irrigam os outros. O filme “O Poderoso Chefão 3” (de Francis Ford Coppola) — inferior aos anteriores, mas, ainda assim, muito bom — retrata a história de Michael Corleone tentando limpar o capital e o nome de sua família. O mafioso tenta se tornar um empresário, poderoso e rico, aceito social e legalmente. Para “purificar” os negócios, cria a Fundação Vito Corleone, doa 100 milhões para obras de caridade da Igreja Católica e tenta comprar a Immobiliare. Um diretor do Banco do Vaticano diz que tem de cobrir um rombo de 700 milhões de dólares e Michael Corleone oferece 500 milhões, desde que a Immobiliare passe para seu controle. O religioso exige 600 milhões. O filho de don Vito Corleone paga, mas acaba por descobrir que foi ludibriado pelos homens do Santo Padre e que, como afirma, “a política e o crime são a mesma coisa”. A “máfia” não está apenas na máfia. Racionalista ao extremo, ao ser enganado por religiosos sagazes do mundo das finanças, o tio de Vincent Corleone (filho de Sonny Corleone), diz: “Quando pensei que estava fora eles me arrastam de volta”. Uma das figuras emblemáticas do filme é Luchesi, “um homem de dois mundos” — uma sugestão a Michael de que não há como sair dos dois mundos na área das grandes jogadas financeiras, ao contrário do que ele pensava. Pois o que parecia ficção literária e cinematográfica tem correspondência precisa na realidade. A Igreja Católica, por intermédio do Banco do Vaticano, lavou dinheiro da Máfia, pelo menos da Cosa Nostra — a milionária, violenta e vingativa organização siciliana comandada pelos chefões Salvatore Riina (mandou matar cerca de mil pessoas) e Bernardo Provenzano.

O livro “Vaticano S. A.”, do jornalista Gianluigi Nuzzi (usou os arquivos do Vaticano, mas não no capítulo sobre a máfia), infelizmente não é detalhado e reserva apenas 16 páginas às relações do IOR (Banco do Vaticano) com a máfia de Riina e Provenzano, os chefões que permanecem presos na Itália, depois de longo reinado de terror e corrupção na Sicília, outras partes da Itália e mesmo no exterior

Nuzzi recolhe trecho de depoimento do arrependido Francesco Saverio Mannoia: “Tinha ouvido Stefano Bontate e outros homens honrados [mafiosos] de minha família dizerem que Pippo Calò, Salvatore Riina, Francesco Madonia e outros do mesmo grupo de Corleone tinham investido somas de dinheiro em Roma por intermédio de Licio Gelli [chefão da Maçonaria italiana], que cuidava dos investimentos e que parte do dinheiro era investido no Banco do Vaticano. Dessas coisas eu falava com Bontate e Salvatore Federico, que eram os executivos de nossa família. Em essência, Bontate e Inzerillo tinham [Michele] Sindona [banqueiro italiano, chamado de o “banqueiro de Deus”], os outros tinham Gelli. No depoimento, Mannoia, o Químico (era refinador de heroína), assegura que o parlamentar italiano Marcello Dell’Utri é “colaborador” da Máfia.

Mannoia acrescentou: “Quando o papa [João Paulo 2º] veio à Sicília [em 1993] e excomungou os mafiosos, os chefes da máfia ficaram ressentidos principalmente porque levavam seu dinheiro para o Vaticano. Disso surgiu a decisão de detonar duas bombas diante de duas igrejas em Roma”.
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