Filósofa francesa critica o mito da mãe perfeita em novo livro

Em entrevista, Elisabeth Badinter rechaça o ideal da maternidade atual e diz que não há um modelo único de mãe para ser seguido

Renata Losso, iG

Desde a década de 70 as mulheres vêm tentando conciliar a maternidade à realização pessoal, lutando por direitos e liberdades até então característicos do mundo masculino. Porém, para a escritora e filósofa francesa Elisabeth Badinter, o passar do tempo não foi capaz de quebrar o “mito do maternalismo”, conceito baseado na existência do “instinto materno”, que deixou às mulheres uma ordem aparentemente inquestionável: é natural que elas sejam mães, e elas devem ser mães infalíveis. Mas e os desejos, anseios e vontades destas mulheres, onde ficam?

Autora do livro “O Conflito – A Mulher e a Mãe” (Editora Record), lançado recentemente, Badinter contou ao Delas que, ao longo dos anos, as mulheres acrescentaram às próprias vidas mais do que somente os filhos. Com as possibilidades de escolhas, elas foram sobrecarregadas por todos os lados e cobradas a serem mais do que perfeitas no cumprimento dos deveres maternos. Este estado de coisas, segundo ela, é interessante para a permanência da dominação masculina e para obrigar as mulheres a continuarem se devotando por completo aos filhos. É contra isso que Badinter milita. Segundo ela, a mãe que dá mamadeira ao filho não é menos mãe que aquela que amamenta. "Acrescentamos uma tonelada de culpa nos ombros maternais", diz. Veja abaixo entrevista com a autora, concedida por e-mail.

iG: Como você vê a maternidade e a maneira que as mulheres lidam com ela atualmente? Aconteceram muitas mudanças nesta concepção desde a década de 70 até os dias de hoje?
Elisabeth Badinter: Há 30 anos a vulgarização abusiva da psicanálise engendrou a ideia de que a felicidade, a inteligência e o desabrochar da criança – portanto, o equilíbrio dela no futuro – dependem essencialmente do comportamento da mãe. Deste então, os ecologistas e outros adoradores da natureza contribuíram para que essa crença realmente existisse: de que para ser uma boa mãe, por exemplo, preocupada com a saúde do filho, é necessário amamentá-lo 24 horas por dia. E, de preferência, se devotar inteiramente a ele durante um ou dois anos. O resultado: as mães que não querem se conformar com essas diretrizes são cada vez mais consideradas mães indignas, e suas amigas as olham com suspeita. Com o passar dos anos, de fato, acabamos acrescentando uma tonelada de culpa nos ombros maternais.”
Entrevista Completa, ::Aqui::

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