O cinema, a tevê e o emburrecimento geral

Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação

“Ando mesmo convencido, e cada vez mais, de que, para o bem da circulação das ideias e da proposição saudável do contraditório, não devemos “partidarizar” certos assuntos com tratamento maniqueísta ou fundamentalista que não ajuda a esclarecer e estigmatiza posicionamentos em função da coloração política de seus autores. Falo isso, hoje, a propósito de uma crônica do Arnaldo Jabor, que ouvi há dias na CBN, em que ele fazia considerações sobre o filme “Se beber não case II”.

Geralmente, quando o Jabor abre a boca para falar de política (ou seria o bico, pelo viés tucano de suas palavras?), minha tendência é discordar dele em gênero, número e grau, porque, a meu juízo, nesse campo ele se incorpora ao pensamento neoliberal com o qual jamais virei a compactuar, nivelando-se ao grupo “global” de uma mídia que quer ser um partido político sem os ônus de sê-lo e sob o disfarce da “crítica de interesse público”.

Contudo, não nego ao jornalista/cineasta o brilho intelectual que possui. Isso seria a tal visão maniqueísta que não pretendo manifestar. Assim, e voltando à sua crônica, participo do que ali ele disse sobre o filme, na realidade um exemplo por ele escolhido para falar da mediocridade que cerca a maior parte dos filmes que chegam aos circuitos brasileiros, geralmente americanos, do tipo “besteirol”, em um apregoado apelo popular que, na verdade, é um primado de idiotice e, por isso, emburrecedor.

Joãozinho Trinta, em certa oportunidade falsamente guindado pela mídia à condição de “filósofo popular”, teve repercutida frase a ele atribuída de que “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo”, para justificar a descaracterização dos elementos populares nos desfiles das escolas de samba, marcados por apoteóticos efeitos especiais. É óbvio que não apenas as camadas populares, mas qualquer cidadão normal, não pode mesmo gostar de miséria. Mas isso não quer dizer, por via de consequência, “gostar do luxo”, do supérfluo, e sonhar com o fausto e a ostentação, trocando, pelo devaneio, a realidade concreta a modificar no plano social. Na verdade, o que o povo quer, aquilo pelo qual deve ser estimulado a lutar, é paz, educação, saúde, dignidade, cidadania.

Essa enxurrada de filmes de quinta categoria, que tratam do escatológico, valorizam o pornográfico e constroem a imbecilidade travestida de humor, apenas reproduz, a meu ver, um processo crônico, tão velho quanto o mundo, de desqualificação e emburrecimento das grandes massas populares, através do empobrecimento cultural.”
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