Contar uma piada pode ser mais perigoso do que cometer um assassinato


"O assassino pode aguardar o julgamento em liberdade. Já o piadista politicamente incorreto aguarda o julgamento na gaiola, sem direitos a fiança

Edival Lourenço, Revista Bula

O respeito é bom, conserva os dentes e eu gosto! Se nunca ouviu este bordão de bazófia e advertência, talvez porque você já seja de uma geração mais nova em que o respeito foi substituído por outra coisa chamada “comportamento politicamente correto”.

O respeito era uma coisa vetusta, arcaica (como também são essas palavras) da sociedade patriarcal, em que crianças “naturalmente” respeitavam os pais, tios e avós, em que os moços respeitavam os velhos, em que a professora não era tia e o aluno respeitava, tanto porque era mais velha como porque havia uma diferença hierárquica a manter um distanciamento reverencial.

O respeito não vinha por determinação legal. Era algo ecológico, nascido dos costumes, vindo de dentro da sociedade, de baixo para cima, feito umidade. Mas o respeito não era politicamente correto. Você podia contar piada de negro ou de viado. De loira ainda pode? Para o bem ou para o mal estamos nos tornando um povo macambúzio e sem graça. Você podia chamar um portador de necessidades especiais de aleijado, sem lhe tirar pedaços. Tive um amigo apelidado de Tião Muletas. Mais do que qualquer outra pessoa o que portava mesmo uma alegria enorme de viver e chegou a se eleger a vereador, sem cotas. Os meninos mais velhos podiam dar cascudos nos mais novos. Os que levavam cascudos hoje eram os que davam cascudos amanhã, sem traumas, como num rito de passagem, no suceder das gerações. Sem constituir bullying. Como os macaquinhos (cuidado com esta palavra) mais fortes que judiam (essa pode ser é ofensiva aos judeus) dos mais fracos, num rito de aquisição de habilidades essenciais e fortalecimento muscular.

Dentro de uma sociedade complexa, como ficou a nossa, a cultura do respeito ficou traumogênica e já não dava conta do recado. Não era é mais eficiente para azeitar as relações sociais. Quem garante são os psicopedagogos, psiquiatras, psicólogos e psiblablablás em geral. Daí veio o tal de politicamente correto. A ideia chegou não pela marcha lenta dos costumes, mas pelo torque bruto da lei, pela imposição. Nem é preciso dilatar sobre seus exageros. Basta sabermos que hoje contar uma piada pode ser mais perigoso do que cometer um assassinato. O assassino pode aguardar o julgamento em liberdade. Já o piadista politicamente incorreto aguarda o julgamento na gaiola, sem direitos a fiança.”
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