Os feios e a Europa

Marcelo Carneiro da Cunha, Terra Magazine

"Now is the winter of our discontent", começa Ricardo III, em mais uma frase criada por Shakespeare para sacudir os nossos ossos. Com ela, o corcunda que deseja ser rei começa sua trajetória de maldades, já que ele descobriu que, se não é belo, inteligente, bem-amado, ele pode muito bem arrumar o que deseja sendo o vilão mais vilão de todos os tempos. Não foi o primeiro, não será o último.

Acontece que, em diferentes momentos nesse mundo vasto mundo, os feios descobrem que os mais belos não os incluem nos seus planos, talvez por preferirem outros igualmente belos ou mais bem cheirosos. Aos mais feios resta a escolha de irem para um canto, agradecendo aos deuses pela invenção da Caras e da chance de ao menos olhar os bonitos enquanto eles enxugam Chandon nos seus castelos, ou, partir para cima e mostrar que a feiúra tem lá o seu charme, ainda mais quando armada de um bom e velho porrete.

Na França medieval, de tempos em tempos acontecia uma jacquerie, uma revolução dos "jacques", os pobres a sofridos camponeses que produziam toda a riqueza que havia, e da qual viam tão pouco. Cuidar do que não comiam era a sina dos jacques, que por vezes cansavam dessa ordem ordenada por Deus e, descobrindo a força dos seus números, acabavam com os nobres e clérigos mais próximos e se esbaldavam por um tempo com o pão e o vinho dos castelos tomados. Na sequência inevitável, o rei reunia seus soldados, ia até os camponeses rebelados, ouvia seus choros justos, prometia mundos e fundos, e enforcava a todos, assim que baixavam as armas.

Até a Revolução Francesa, esse foi o destino de todas as jacqueries, que somente tiveram o script mudado porque em 1789 havia um cansaço com a idéia da divindade dos reis, e uma burguesia disposta a dizer aos jacques o que fazer com o machado.”
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