Menalton Braff, Revista Bula
“Isso não é privilégio de nossa cidade.
Cenas idênticas tenho visto em toda parte. Mais fácil acreditar que seja
característica de nosso tempo. O beijo de bico de minha época, que os jovens de
hoje apelidaram de “selinho”, o beijo de boca, discreto ou cinematográfico,
isto é, de perder o fôlego, de todos conheço como de todos experimentei. Sem
esquecer o beijo de língua, o mais sensual de todos. Poderia ser chamado de
beijo-véspera com muita propriedade. Pois outro dia fiquei assombrado ao
presenciar um beijo de língua. Não por ser muito moralista, é que o beijo se
deu entre uma garota e um cachorro. Meu liberalismo tem limites e meu estômago
é fraco.
O que a língua andou limpando momentos
antes ou se a proprietária contraiu cinomose, nada disso importa na hora
do beijo, que é a demonstração maior de carinho. Aliás, me cochichou agora meu
anjo da guarda, dizendo que cinomose é doença de cachorros e não costuma
acometer mocinhas que os beijem. Na boca e com algum requinte cuja razão
desisti de entender. Mas antes que me acusem de anticanino, devo declarar que
sempre amei os cães e foram muitos os que tive. E juro que nunca usei de
crueldade com eles. Se não foram inteiramente felizes em minha companhia, é
porque não entenderam que em nossas relações jamais abdiquei de meus direitos.
Mesmo quando os afagava, e o fazia com frequência, mantinha alguns princípios,
como o da hierarquia, em vigor.”
Artigo Completo, ::Aqui::
Comentários