Frei Betto, Adital
“No início dos anos 80, engravidei da
pulsão de escrever um romance sobre a história de Minas Gerais. É assim: o tema
de uma obra de ficção nos agarra na esquina da vida. É como paixão à primeira
vista. Ou a "eureka” dos gregos. Súbito, brota a ideia, e ela impregna o
sentimento e gruda nas dobras da subjetividade. Ali germina até que se consiga
dar vazão à pulsão.
Meu projeto inicial era escrever um romance
ambientado na mina de Morro Velho, em Nova Lima. Ali acampei quando escoteiro. Dali
ouvi histórias mirabolantes de desabamentos, inundações, mortes, e muita
pobreza em meio à riqueza gerada pela mais profunda mina de ouro do mundo.
A cozinheira de minha família, Ana, era de
Raposos e, seus parentes, quase todos empregados da Morro Velho. Dela escutei
incríveis relatos do que ocorria naqueles subterrâneos em que se extraíam ouro
das galerias e saúde dos trabalhadores.
Graças à colaboração de Christina Fonseca e
Maione R. Batista, entrevistei ex-empregados da mina e, em especial, Dazinho,
líder sindical de Morro Velho que se elegeu deputado estadual e, mais tarde,
teve o mandato cassado pela ditadura, que o levou à prisão.
Tive acesso a livros raros sobre a história
da mina, a manuscritos antigos, a mapas e até papéis de contabilidade, e
retornei a ela um par de vezes.
Uma coisa leva à outra. De Morro Velho
minha pesquisa se ampliou para a história das Minas e das Gerais. Devorei,
calculo, cerca de 120 livros, entre os quais o Códice Matoso, Autos da devassa,
os volumes das coleções Mineiriana e Brasiliana, textos de Diogo de
Vasconcelos, Lúcio dos Santos, Iglesias, Boschi, Neusa Fernandes, Laura de
Mello e Souza, Myriam A. Ribeiro de Oliveira, Júnia Ferreira Furtado etc.”
Artigo Completo, ::Aqui::
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