Estudar muito até ficar burro

Eberth Vêncio, Revista Bula

“Vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas, aprendendo a jogar.” (Guilherme Arantes)

Não sei quem começou tudo isto, que maldita escola desta cidade decidiu ministrar aulas aos sábados, domingos e feriados. Impaciente, Júlia me provoca, na autoridade inquisitiva de seus 13 anos, qual a importância real futura de se saber que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos.

Por outro lado, Felipe, o irmão mais velho, deixou de praticar piano e abandonou a galera do futebol porque os professores incutiram que é preciso estudar mais, muito mais, se quiser vencer a concorrência do vestibular no final do ano.

Exigência do mercado, cobrança dos pais ou márquetim das escolas? Mais que adestrar adolescentes é essencial educá-los. E existe forma mais transformadora senão através das vivências? Então, que ensino é este?

Semírames, por exemplo, embora pertença a uma velha geração desprovida da informática (sim, meus jovens, houve um tempo em que sobrevivemos — razoavelmente bem — sem o mister de orcutes, tuíteres e sexo virtual), também se entregou de corpo e alma aos afazeres acadêmicos e à carreira profissional.

Semírames estudou fora da cidade natal praticamente uma vida inteira. Aos quinze anos, foi morar de favor na capital, na casa de uma tia, onde concluiu o colegial (hoje denominado Ensino Médio). Não fazia outra coisa senão ir para o colégio e para a igreja (raciocínio da tia-tutora: tomar conta dos filhos dos outros sempre exige cuidados adicionais, uma vigilância diuturna contra os estrogênios e o capeta). Lazer? Mais ou menos. Torcia para que as segundas-feiras chegassem logo.

Passou no vestibular de Medicina, com sobras, na primeira tentativa. Mesmo que não suportasse ver sangue, sentir o olor sofrido de seus pacientes pobres, e dissecar cadáveres formalizados, “venceu a fraqueza” e se formou doutora após seis anos hibernada em livros, plantões e um bocado de solidão.

Depois, foi pra São Paulo fazer residência médica em Psiquiatria. Cada louco com sua mania, diz o ditado. Passou em primeiro lugar no concurso. Três anos de labuta na terra da garoa.

Cismou em fazer mestrado na Espanha, onde permaneceu por dois anos. Já que estava na Europa mesmo, calculou que não custava nada um esforço adicional e se embrenhou num doutorado no Reino Unido, onde viveu mais uma temporada.

Na semana passada, encontrei Semírames numa cafeteria. Lia um livro cujo título em francês na capa eu não fui capaz de decifrar. Eu não a via desde os tempos de colégio, época em que até tentei um resvalo, um afér (do francês, só conheço afér e jetami), uma exposição consentida dos gametas sob o eflúvio da testosterona. A tentativa de ejaculação-namoro, claro, foi malfadada. Prossigamos.”
Artigo Completo, ::Aqui::

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