Alex Sens Fuziy, Revista Bula
"Nova coletânea de contos realça o sabor
estragado da criação literária brasileira, onde a forma é o clérigo e o
conteúdo, o coroinha molestado sob a batina de uma literatura superficial. Pai,
perdoai-os, eles não sabem o que fazem
Bonitinha, mas ordinária. A expressão
criada por Nelson Rodrigues nunca me soou tão sensata. No país da virilha que
cobre a roupa, esse mero acessório, ou tapa-sexo, ou tapa-hipocrisia, a
literatura segue o mesmo caminho: expõe-se até o último pelo pubiano, perturba
a atenção do leitor com sua casca porque o miolo é podre ou, pior, oco.
Naturalmente, esse campo dilemático do que é bom ou ruim, o quanto de
consciência e inconsciência de si existe numa criação artística, não se encerra
na literatura brasileira; ele é tão minado, perigoso, decisivo como a escolha
de uma palavra, quanto a superestima de alguns escritores sobre seu próprio
trabalho e se espalha insidiosamente como uma erva daninha pela literatura
mundial. Todos podem escrever, alguns talentosos e/ou afortunados podem ser
publicados, mas quantos são realmente bons? E como encontrá-los, quando são
diamantes miúdos perdidos em pedras de carvão do tamanho da inépcia cultural de
quem se considera escritor porque (acha que) sabe contar uma história? De quem
se considera escritor porque monta uma cadeia de frases mal-escritas publicadas
tão somente pela condescendência de um amigo influente?
Depois de organizar e publicar duas
controversas coletâneas de contos da chamada “Geração 90”, o mesmo grupo que surgiu
fazendo “a nova literatura brasileira” na última década do século XX, o
escritor (ou agitador de opiniões) Nelson de Oliveira acaba de fechar a
trilogia de ficcionistas nacionais com o recente volume “Geração Zero Zero”
(Língua Geral, 408 páginas). O zero duplicado faz referência à chegada do
século XXI e os escritores que estrearam no mercado editorial em sua primeira
década — também 21 após uma seleção que envolveu cerca de 150
ficcionistas. Neste novo século, desabrochado violentamente como uma flor de
íons e bytes, houve a explosão dos escritores virtuais, apoiados na internet e
em seu suporte aparentemente simples de exploração e divulgação de textos. Uma
grande parte escreveu muito mais do que pensou o ato da escrita, escreveu muito
mais do que leu para extrair da leitura sua base técnica, com os dedos voltados
para o artista egoico dentro de si e este com um umbigo enorme entalado na
garganta; outra pequena parte escreveu muito menos, mas amadureceu, estudou,
leu, aprimorou suas técnicas e seus enredos, voltou os dedos para a
literatura-coisa e o ego para outros escorregarem onde a casca da banana também
foi engolida pelo buraco negro da megalomania.”
Artigo Completo, ::Aqui::
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