Eberth Vêncio, Revista Bula
“Solidão, o silêncio das estrelas, a ilusão
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos
como um deus, e amanheço mortal
E assim, repetindo os mesmo erros
dói em mim ver que toda essa procura não tem fim
E o que é que eu procuro afinal?
Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
o que não pode ser dito, afinal
ser um homem em busca de mais, de mais
Afinal, feito estrelas que brilham em paz, em paz”
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos
como um deus, e amanheço mortal
E assim, repetindo os mesmo erros
dói em mim ver que toda essa procura não tem fim
E o que é que eu procuro afinal?
Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
o que não pode ser dito, afinal
ser um homem em busca de mais, de mais
Afinal, feito estrelas que brilham em paz, em paz”
Lenine / Dudu Falcão
“Recomendações preliminares: crônica para
se ler e ouvir. Se possível, tente prosseguir a leitura deste texto ouvindo a
canção “O silêncio das estrelas”, na voz do cantor nordestino Lenine. Se
preferir, faça uma cena: queime depois de ler. Tô nem aí.
Fico pensando o que seria de mim sem a
música. Imagino meu castigo maior, o quanto viver tornar-se-ia insuportável se
eu ficasse, de repente, deteriorado no juízo ou nos ouvidos.
Sinto certo grau de indignação ao supor que
os malvados (celerados e canalhas outros), além de possuírem reserva moral para
o amor, — refiro-me ao amor sensual, aquele sentir a falta do (a) amante
— têm lá as suas preferências musicais. Sabe-se, por exemplo, que
Hitler, um dos maiores vilões da História, além de ter-se afeiçoado por Eva Braun
e pelos cachorros, gostava de ouvir Wagner.
Similarmente, imaginei um torturador
chegando à casa, tirando a camisa suja de suor e sangue de tanto bater numa
pessoa sem defesa, jogando ao canto da sala os sapatos respingados de dor e com
os quais chutou as costelas da sua vítima, reclamando de cansaço à esposa,
beijando-a com paixão na boca, tendo uma ereção, abrindo a braguilha e uma
garrafa de cerveja, desfilando de ceroula, e escutando música, enfim, só pra
relaxar. O dia foi duro, beibe... Certa vez, ao assistir a um documentário
cujo nome não me lembro, um dos entrevistados — ex-preso político
que fora torturado no período da ditadura militar brasileira
— contou que, durante as sessões de tortura, os seus algozes
colocavam na vitrola sempre a mesma canção, em volume máximo, a título de
provocação e, acima de tudo, humilhação, para que a vizinhança não escutasse
gritos, choros e “outros sinais de fraqueza humana”. A canção era “Apesar de
você”, de Chico Buarque. Hoje em dia, aos primeiros acordes desta música, o ex-torturado
estremece, perde as estribeiras e quase se urina.
Por outro lado, leitor, que canção lhe faz
doer por dentro (no melhor sentido imaginável: a dor de amor, a beleza nua e
crua)? Que música lhe faz levitar? Que som você escolhe para embalar a noite
quando vai “fazer amor” (detesto esta expressão; prefiro “divertir-se com o
corpo alheio”)? Aliás, na hora do sexo: samba, roque pesado, baladinha ou
téquino-brega? É possível gozar ao som de “Sandra Rosa Madalena” (Sidney Magal)
ou “Florentina” (Tiririca)?! Calma lá. Jamais subestime a capacidade do ser
humano em fantasiar.”
Artigo Completo, ::Aqui::
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