Eberth Vêncio, Revista Bula
“Tenho o couro e a alma demasiadamente
marcados pelo braseiro da música. O título acima foi pinçado de “Negro amor”, a
versão brasileira setentista de Péricles Cavalcante e Caetano Veloso para “It’s
all over now, Baby Blue”, de Bob Dylan. Àqueles que não conhecem a canção,
recomendo que o façam, em especial, pela beleza constrangedora da letra. Será
verdade que, em termos musicais, já não se fazem mais poetas como
antigamente?
Brasileiro adora carro, mas adora ainda
mais os feriados. “O Dia dos Mortos” ou “O Dia dos Fiéis Defuntos” é comemorado
pela Igreja Católica e seu assustado rebanho de asseclas no dia 2 de novembro. A
prática de reverenciar aqueles que já saltaram do planeta é secular e, como
sempre acontece, rende muitas lembranças (algumas boas de serem sentidas,
outras boas de serem enterradas para sempre nos subterrâneos da memória),
lágrimas, chiliques, filas e negócios-da-hora para o comércio ambulante de
velas, flores e penduricalhos. Que fique bem claro aos mortos: estamos vivos e
saudosos, mas não estamos nos comportando tão bem assim. Se conseguirem,
descansem em paz.
Não acendi uma só velaem Finados. Tambémnão
areei azulejos, nem depositei flores artificiais sobre lajes de sepulturas,
conforme alertaram as autoridades municipais da Saúde, a fim de se evitar a
proliferação do mosquito Aedes Aegypti. O homem está sempre se ocupando em
fugir das pragas e das pestes. Pode até ser que o mosquito tenha proliferado
menos durante o feriado, mas as minhas dúvidas...
Não me lembrei tanto assim dos entes
queridos falecidos. Aliás, os seres viventes ocuparam mais o humor do meu dia,
das maneiras mais desagradáveis: um motorista estressado abriu a janela do
carrão importado e me mostrou o dedo anular em riste; descobri na caixa de
correios mais um comunicado de multa de trânsito; a goteira no teto da varanda,
supostamente resolvida por Raimundinho, o pedreiro sabe-tudo, não ficou
resolvida, não senhor.”
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