Euler de França Belém, Revista Bula
“A excelente biografia “Darwin — A Vida de
um Evolucionista Atormentado”, de Adrian Desmond e James Moore, saiu com erros
e a Geração Editorial encomendou uma revisão técnica, relançou o livro e fez as
trocas com os leitores. Bastava levar a edição antiga às livrarias e proceder à
troca. Infelizmente, a Editora Objetiva mostra-se menos responsável e decidiu,
mesmo depois de dezenas de erros apontados por intelectuais baianos — e
certamente há outros equívocos —, manter em circulação o livro “A Primavera do
Dragão — A Juventude de Glauber Rocha”, do escritor e produtor musical Nelson
Motta. A Objetiva informa que vai lançar nova edição corrigida, mas a primeira
edição, verdadeiro lixo de triste figura, vai continuar nas livrarias. Quem
comprou a edição eivada de falhas terá de jogá-la fora ou vendê-la em algum
sebo desavisado. Os erros foram anotados e divulgados pelo repórter Claudio
Leal, da “Terra Magazine”.
Depois dos problemas apontados pelo
magnífico levantamento de Claudio Leal, verdadeiro serviço de utilidade
pública, um leitor entrou em contato com a “Terra Magazine” e apontou mais um,
diria o biógrafo Motta, probleminha. O Teatro Castro Alves, no Campo Grande,
“foi construído pelo governo Antonio Balbino e, antes da inauguração, destruído
por um incêndio”, corrige Claudio Leal. Motta diz que o TCA foi construído pelo
reitor da Universidade da Bahia, Edgard Santos. Uma leitura mais criteriosa
certamente apontará mais erros, pois há indícios de que, como pesquisador,
Motta é desleixado. Ao contrário dos jornalistas Fernando Morais e Ruy Castro,
autores de biografias celebradas pela precisão, Motta parece não checar as
histórias que recolhe ou, quem sabe, inventa — às vezes atribuindo-as a fontes
que, mortas, não podem desmenti-lo.
As correções principais partiram de
integrantes da geração Mapa (título de uma revista). O poeta e historiador
Fernando da Rocha Peres é o crítico mais candente. “Tenho a dizer que o livreco
é feio, mal escrito, mentiroso e mais houvera adjetivos”, escreveu à Objetiva,
ou Não-Objetiva (editoras americanas e inglesas têm o hábito de consertar as
barbeiragens de escritores e biógrafos).
Fernando da Rocha Peres é chamado por
Motta, na biografia-errata, de “Bananeira”. Mas o cacho foi encontrado noutra
freguesia. Pois quem tem o apelido de “Bananeira” é outro Fernando — o
jornalista Fernando Rocha. Este, por sinal, garante que nunca deu entrevista ao
biógrafo-errata.
João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, é tido
e havido como o autor da mais alentada e respeitada biografia do cineasta baiano
— “Glauber Rocha, Esse Vulcão” (Nova Fronteira). O livro de Motta — que
certamente estava em transe, com os pés fora da terra, quando o escreveu (seria
uma psicografia desviante, ou melhor, delirante?) — usa “um anedotário gasto,
sem sentido e já desmoralizado”, disse João Carlos à “Terra Magazine”.
Todo malemolente (ou malevolente?), Motta
conta que Caetano Veloso, o cantor e compositor baiano, teve um caso com Anecy
Rocha, a irmã do diretor de “Terra em Transe”. O biógrafo João Carlos, este
sério e criterioso, repara: “Nunca soube que Caetano Veloso, que nem tinha
vinculação com nossa geração, nem aparecia em nada que fazíamos, teve algum
caso de amor com Anecy. E, se teve, isso é absolutamente irrelevante para a
compreensão da vida de Glauber”. Motta diz que ouviu isto de alguém e,
portanto, emplacou no livro — sem checar. Teria ouvido a “informação” durante
algum sonho? Freud às vezes explica a confusão entre realidade, desejo e
fantasia.”
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