Menalton Braff, Revista Bula
“Mais de duas horas aqui sentados neste
barranco de rio sem qualquer sinal de vida, qualquer mensagem, as boias ali à
toa na superfície da água, nos encaramos desistentes. As promessas não se
cumpriam, apesar de nossa paciente insistência. O sol, estilhaçado e frio, cai
sobre o remanso de onde esperávamos alguma notícia. É um momento meio triste,
pois o dia definha irreversível e com alguma lentidão: morrente.
Sabe o quê, a gente, pra não perder a
viagem, ainda pode nadar um pouco. E as roupas começam a voar para cima dos
arbustos. Mas eu não sei nadar muito bem, alega meu amigo para justificar sua
relutância em se jogar na água. Mesmo assim, já está pelado, a pele branca
arrepiando-se com a brisa que desce das copas escuras, então arroja seu corpo
de pele branca na direção da água e levanta um turbilhão de pingos que
aproveitam os restos do dia para brilhar no espaço antes de se misturar
novamente ao sorvedouro. A água é quase sempre uma alegria do corpo: o prazer
despudorado.
Soltei os braços puxando o rio para trás,
com a velocidade de quem quer chegar: o fingimento dos músculos. A cabeça ora
afundava ora emergia acima da correnteza, os pés em movimentos rápidos, um
ritmo só. Atravessei o remanso e o sorvedouro, e de lá, do outro lado, aonde o
mato vem molhar os pés, grito para meu amigo que não tente a mesma reta. O
caminho mais longo pode ser o mais seguro. Volto na mesma velocidade pela parte
mais funda do rio, atravesso a correnteza e subo a uma pedra escura em função
de plataforma. Do alto, aonde cheguei em poucos segundos, solto um berro de
vitória: guerreiro. Então me jogo novamente no rio.”
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