Da cultura cinematográfica


André Setaro, Terra Magazine

“Alguns leitores, por mensagens diretas para minha caixa postal eletrônica, estranharam que na lista dos melhores filmes de 2011, publicada há quinze dias, tenha incluído na relação O discurso do rei (The king's speech), de Tom Holland. Há, por parte de certa crítica, um preconceito pronunciado contra os filmes que possuam uma estrutura narrativa sem que, nela, haja firulas de linguagem, invencionices, e um repúdio aos filmes contemporâneos que porventura se utilizem de uma narrativa, por assim dizer, acadêmica. Ora, não somente os filmes que procuram desestruturar a estrutura narrativa é que podem ser bons e belos.

O realizador acadêmico também pode proporcionar um espetáculo de excelência, como penso ser este O discurso do rei, obra de perfeita reconstituição histórica, com ritmo adequado, interpretações notáveis, e o embate entre Colin Firth e Geoffrey Rush, que lembra, mudando o que deve ser mudado, o embate do Professor Higgins com Elisa no belíssimo My Fair Lady. A tendência atual parece a de ser considerar apenas o cinema que é de invenção. Tudo bem. Mas que haja talento. Por exemplo: considero O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla, um dos cinco maiores filmes brasileiros de todos os tempos. Mas não vamos nos perfilar somente pelos caminhos de Ythaca.

Apoiando-me numa preciosa definição do falecido crítico literário José Paulo Paes, tradutor e ensaísta de grande renome, vou tentar expandir o seu conceito de cultura para o cinema. Disse ele numa palestra: "Cultura não é acumulação de informação, é assimilação de informação, é tudo aquilo de que a gente se lembra após ter esquecido o que leu. A cultura se revela no modo de falar, de sentar, de comer, de ler um texto, de olhar o mundo. É uma atitude que se aperfeiçoa no contato com a arte. Cultura não é aquilo que entra pelos olhos, é o que modifica o seu olhar. Não é preciso ler muito, mas ler bem".
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