Ricardo Silva Oliveira, Revista Bula
“Dentro do universo literário existe um
fenômeno estranhíssimo, porém constante, de escritores com alta exigência
literária, e com incrível capacidade de escrita, que se negam a escrever. Ou
escrevem, e publicam, algumas poucas coisas e se calam para sempre. Ou, quando
não se calam para sempre, ficam décadas num silêncio literário que agonia seus
leitores e que deixam os críticos cismados. Esses escritores fazem parte do
grupo que sofre da síndrome de bartleby.
Outro dia (há três anos; vocês não sabem,
mas sou o arqueólogo oficial desse site, um caçador de textos empoeirados) o
Flávio Paranhos, ilustre escritor da Bula, falava da sua recusa
a escrever (e até de ler) ficção e que isso não era ocasionado pela síndrome de
bartleby, que ela não causa nada, pois os escritores é que se recusam, numa
espécie de abstinência consciente, ao seu ofício de escrever.
Pra mim, escritores que não escrevem é um
mistério insolúvel. Como explicar o fato de Salinger, um dos maiores expoentes
da literatura contemporânea, ter publicado apenas 4 livros e logo em seguida se
calar, num silêncio que durou mais de 40 anos até sua morte em janeiro de 2010?
Assim como Salinger, existem muitos outros bartlebys na literatura.
A síndrome de bartleby tem esse nome por
causa do conto de Herman Melville, “Bartleby, o escrivão”, sobre um jovem que
responde a anúncio de jornal oferecendo uma vaga de copista. No início se
dedica com vigor ao seu novo emprego, sempre na ânsia de copiar algo, até que
uma apatia vai tomando conta dele, a ponto de ficar dias sem fazer nada, sem se
alimentar, sem sair do seu lugar, apenas olhando pela janela, e quando o dono
do cartório insta-o a copiar algo, responde sem vontade: “preferia não o
fazer”. E assim segue, absolutamente indiferente às coisas até seu triste fim. E,
isolando a essência desse personagem, o escritor Enrique Villa-Matas escreve
seu livro “Bartleby e Companhia”.
Artigo Completo, ::Aqui::
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