“Crônica de uma mulher de cinquenta
anos, divorciada, que vive em seu carro, ignorada pelo governo e pela
sociedade. Uma vítima exemplar da crise atual.
Bruno Carmelo, Discurso – Imagens
Ovacionado no festival de Veneza, este
pequeno filme é dirigido por um desconhecido, com atores desconhecidos e um
orçamento mínimo. Ele é mais uma dessas crônicas sobre a crise que o cinema
francês tem produzido às dezenas ultimamente, sempre com ótima reação da
crítica e desprezo quase total do público. Sobretudo, seu tema diz respeito a
um dos principais problemas sociais na França: a falta de moradia. A
protagonista, Louise Wimmer, é uma mulher de quase cinquenta anos, divorciada e
morando em seu carro depois de perder os bens para o ex-marido. Seu trabalho é
precário, a relação com a filha, os amigos e os homens é igualmente escassa.
Como na imagem acima, este filme francês
foca toda sua atenção em sua personagem principal. São raríssimas as imagens em que Louise não esteja
presente, com o rosto inteiro preenchendo o quadro, e recebendo os golpes de
uma sociedade que insiste que ela deve pagar impostos, deve estar contente por
ter um pequeno emprego, e deve sobretudo agradecer por ter um carro onde ela
pode dormir – alguns sequer têm isso. Mártir sem um pingo de autopiedade,
Louise aceita esses insultos e desprezos com um olhar fechado, com uma
cordialidade imposta: “Sim, senhor”, ou “Eu vou pagar”, ela responde.
O roteiro segue a estrutura típica do
“filme de personagem”, colando-se aos dias desta mulher e esperando que algo se
produza em sua precária e repetitiva rotina. Pois nada excepcional ocorre, sua
situação não melhora, e mesmo o carro, símbolo do único bem que ela possui,
começa a apresentar problemas. Até o rádio do carro emperra na mesma canção,
“Sinnerman” de Nina Simone, que parece reconfortá-la no início, e irritá-la
mais tarde.”
Artigo Completo, ::Aqui::
Comentários