“O teatro Gialino, na região central de
Atenas, é uma casa noturna à moda antiga. Cerca de 400 pessoas se acomodam
pelas mesas distribuidas diante do palco. Pedem bebidas, encomendam uns
petiscos, alguns até se arriscam a jantar. Muitos fumam, cobrindo o auditório
com uma névoa que recorda os bas-fonds dos espetáculos de outras épocas.
Breno Altman, Opera Mundi
O recital em cartaz pega carona nesse
ambiente. Intitulado Paris-Berlin, apresenta uma dupla de artistas inspirada no
dueto entre Liza Minelli e Joel Gray, protagonistas do célebre filme Cabaret
(1972). Trata-se de uma antologia musical do século XX, entrelaçada por textos
ácidos contra o garrote apertado pelos governos francês e alemão sobre o
pescoço da Grécia atual.
Claro que a narrativa é incompreensível
para os que não dominam a língua. Mas o repertório fala para a memória e o
coração dos ouvintes de todos os idiomas. No centro do espetáculo, uma jovem
cantora empolga a audiência com interpretações emocionantes de clássicos da
trincheira. Velhas músicas de guerra e protesto, gregas ou de outras partes,
misturadas com canções de amor inventadas em épocas de combate.
A estrela da noite chama-se Rita Antonopoulou. Sua voz grave e potente é a antítese, por exemplo, do estilo sussurrado e pedante de Carla Bruni, a primeira-dama francesa. Enche o teatro de eletricidade ao cantar Lili Marlene, tornada famosa por outra Marlene, a Dietrich, e renascida nos lábios de Hanna Schigulla. Faz homens e mulheres lacrimejarem com a glamurosa Sous le ciel de Paris, da legendária Edith Piaf.
Rita canta em francês, inglês, grego e alemão durante quase três horas. Não somente empresta sua voz a canções antológicas, mas também arrisca novos arranjos. Depois de versão clássica para Amsterdam, carregada com a densidade pensada por seu autor, Jacques Brel, mergulha em nova abordagem do mesmo compositor, dessa feita para Ne me quitte pas. Oferece à célebre cantiga um tempero de agressividade que pode até incomodar os que apreciam sua entonação original de dor e perda.
O espetáculo se encerra com tradicionais cantos locais, a maioria de protesto. Rita desce do palco para a plateia. Muitos acompanham, ao seu lado, conhecidas letras e melodias de Mikis Theodorakis, Thanos Mikroustsikos e outros ídolos da história musical do país no século XX. As pessoas parecem tomadas pela vontade de buscar, no passado, a trilha sonora que dê ânimo e poesia para as batalhas travadas pelos gregos de hoje, por sua sobrevivência perante a roda inclemente das finanças mundiais.
“Minha geração tinha a impressão de ter tudo”, diz a cantora, nascida em Atenas há 33 anos. “Quando a Grécia se incorporou a União Europeia e o país foi inundado por créditos abundantes, o consumo fácil criou ilusão de prosperidade entre os jovens. Agora acabou". Filha de um trabalhador na área de telecomunicações e de uma bancária, Rita ainda vive no Maroussi, bairro de classe média nos subúrbios de Atenas. Apesar de os pais terem simpatia pelo Pasok, partido da social-democracia, sua crítica à sociedade grega brotou apenas com a emergência da carreira musical.”
A estrela da noite chama-se Rita Antonopoulou. Sua voz grave e potente é a antítese, por exemplo, do estilo sussurrado e pedante de Carla Bruni, a primeira-dama francesa. Enche o teatro de eletricidade ao cantar Lili Marlene, tornada famosa por outra Marlene, a Dietrich, e renascida nos lábios de Hanna Schigulla. Faz homens e mulheres lacrimejarem com a glamurosa Sous le ciel de Paris, da legendária Edith Piaf.
Rita canta em francês, inglês, grego e alemão durante quase três horas. Não somente empresta sua voz a canções antológicas, mas também arrisca novos arranjos. Depois de versão clássica para Amsterdam, carregada com a densidade pensada por seu autor, Jacques Brel, mergulha em nova abordagem do mesmo compositor, dessa feita para Ne me quitte pas. Oferece à célebre cantiga um tempero de agressividade que pode até incomodar os que apreciam sua entonação original de dor e perda.
O espetáculo se encerra com tradicionais cantos locais, a maioria de protesto. Rita desce do palco para a plateia. Muitos acompanham, ao seu lado, conhecidas letras e melodias de Mikis Theodorakis, Thanos Mikroustsikos e outros ídolos da história musical do país no século XX. As pessoas parecem tomadas pela vontade de buscar, no passado, a trilha sonora que dê ânimo e poesia para as batalhas travadas pelos gregos de hoje, por sua sobrevivência perante a roda inclemente das finanças mundiais.
“Minha geração tinha a impressão de ter tudo”, diz a cantora, nascida em Atenas há 33 anos. “Quando a Grécia se incorporou a União Europeia e o país foi inundado por créditos abundantes, o consumo fácil criou ilusão de prosperidade entre os jovens. Agora acabou". Filha de um trabalhador na área de telecomunicações e de uma bancária, Rita ainda vive no Maroussi, bairro de classe média nos subúrbios de Atenas. Apesar de os pais terem simpatia pelo Pasok, partido da social-democracia, sua crítica à sociedade grega brotou apenas com a emergência da carreira musical.”
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