Menalton Braff, Revista Bula
“Ontem acordei melancólico. Sofri, talvez,
uma recaída do espírito juvenil, e me senti como se estivesse carregando o
mundo nas costas. Mas também não sei se era essa a razão daquela tristeza não
localizada e sem causa aparente. Porque é isso a melancolia. Pelo menos é isso
que se aprende na diferença que o Freud faz entre ela e o luto. E como a cama
estivesse pesada, resolvi levantar para enfrentar as agruras da vida.
Estava tomando café, olhos boiando na
superfície marrom, quando fui perturbado pela primeira pergunta. Bem provável
ter sido a mesma que mexera em meu humor na hora de acordar. E se você está
pensando em frescura existencial do tipo “de onde vim, para onde vou, quem sou
eu?”, etc. que nos caracterizam a adolescência, como a pergunta que me
perturbou, sinto dizê-lo, mas seu pensamento sofre de leviandade. Isso não são
perguntas que em perfeita sanidade se façam depois dos vinte, não é mesmo?
A pergunta da maior gravidade que me fiz
foi: É possível melhorar o mundo? E antes de pensar em uma resposta positiva ou
negativa, percebi que era preciso determinar em que me parecia que o mundo
carece de melhora. Cheguei à conclusão de que a vida do homem em sociedade não
é lá grande coisa. Dominantes e dominados, possuidores e despossuídos, letrados
e iletrados, os que trabalham e os que se divertem, os que gozam a vida e
aqueles que a sofrem. Ninguém vai me convencer de que o mundo está bem
organizado. Além do Cândido, só um vizinho meu, que não conhece o Voltaire,
consegue acreditar.”
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