Menalton Braff, Revista Bula
“Saí do teatro emocionado e pensando em
escrever alguma coisa sobre a execução da nona de Beethoven. Sou assim: se me
emociono as palavras começam a circular nas veias aquecidas. Cheguei a estudar
piano até certa fase da adolescência, mas não me sinto competente para emitir
juízos a respeito do desempenho de uma orquestra sinfônica. Era impossível
resistir ao apelo das palavras que se amontoavam dentro da cabeça e pediam
passagem. Por isso, quer dizer, pela opção que fiz pelo outro teclado, este
aqui, não passo daqueles conceitos bem genéricos que qualquer amante da música
erudita consegue emitir.
Carregado por esses pensamentos fui parar
ao lado do Aldo Obino. Não, você não deve conhecer o Aldo Obino. Mesmo em sua
terra ele, como pessoa, não deve ter muitas memórias onde se abrigue. Hoje ele
é nome de centro cultural, é nome de sala de jornal, mas no meu tempo de jovem,
em Porto Alegre,
Aldo Obino era o crítico de música erudita mais badalado da cidade. Era nossa
referência. E escrevia no “Correio do Povo”, naquela época o principal jornal
do Estado. Dizem que entendia muito e escrevia bem. E nós não perdíamos nada do
que ele escrevesse.
Certa ocasião, venderam-se ingressos para o
concerto de Yara Bernetti, pianista de São Paulo e uma das melhores executantes
de J. S. Bach a que tenho assistido. Nunca assisti à execução de uma fuga como
a dela. Nosso grupo de fanáticos por Bach, que não era pequeno, aguardou a
noite de sábado com ansiedade. Os jornais deram a biografia da pianista, a
opinião de críticos nacionais e estrangeiros sobre ela, enfim, seu concerto era
o que se podia chamar de imperdível.”
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