Eberth Vêncio, Revista Bula
“Atrás
do trio elétrico só não vai quem já morreu”
Caetano Veloso
Caetano Veloso
Nem morto eu sairia pulando atrás de um trio elétrico.
Não encontro disposição para me esfregar na quentura suada dos foliões com
cachaça até a tampa. Na verdade, falta-me um bocado de paciência para suportar
farras carnavalescas em logradouros públicos onde pessoas urinam nos canteiros
e calçadas, quando não despejam ali mesmo os seus gametas entreaspernas das
moças e dos efeminados no meio da galera.
Você tem razão. Eu estou exagerando um bocado, que é
pra azeitar o texto. Já me explicaram como uma festa consegue estancar um país
continental durante quatro dias, no mínimo: tudo não passa de tradição e
cultura.
Por exemplo: na Espanha, o povo se excita com as
touradas centenárias e as farras do boi, deixando as cambadas de protetores dos
animais com os cabelos em pé.
Em vários países da África, é o maior barato mutilar
as genitálias das meninas, antes da puberdade, para que elas jamais sintam
prazer sexual. Há famílias que promovem almoços festivos incríveis para
comemorarem a extirpação dos clitóris de suas filhas, algo parecido com as
farofadas de testículos que os nossos antepassados faziam nas fazendas do
interior do Brasil, após um dia inteiro de castração bovina.
No Brasil — reduto planetário onde o povo é
pacato, generoso e também ignorante — prevalecem o samba, o carnaval, o
futebol, muito séquissi-apiu e um bocado de corrupção. Exagerei novamente? Fiz
uma comparação grosseira e deselegante? Eu mereço cinquenta chibatadas
sauditas? Simplesmente, não dá pra remar contra a cultura de um povo, né
verdade?!
Mas a gente rema. Todo ano é a mesma coisa: chega o
carnaval, o país para, e um punhado de gente que não se interessa pela folia
fica assistindo à explosão de alegria e se sentindo um marciano (e se, além de
água e bactérias, as sondas espaciais encontrarem samba e axé em Marte?!). Siga
o roteiro a seguir ou faça terapia. Conheço psicoterapêutas do borogodó.
Aproveite o feriado e tenha um orgasmo tântrico com
quatro dias de duração. Não. Eu não faço ideia como isto funciona. Pesquise na
uiquipédia.
Saia a pé pela principal rua da sua cidade, às sete
horas da manhã, e grite a plenos pulmões “quem manda aqui nesta joça sou
eu”.
Está estressado? Vá pescar. Se não fisgar
nenhum peixe, melhor ainda. Se o anzol ao menos beliscar, aproveite o momento
para inspirar uma atmosfera pura, sem a fuligem de metais pesados.”
Artigo Completo, ::Aqui::
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