Eberth Vêncio, Revista Bula
“No dia 8 de março comemora-se o Dia
Internacional da Mulher. Se as fontes de pesquisa não me traíram, a data
remonta de um levante de mulheres russas no início do século passado, durante a
1ª Guerra Mundial, a reivindicarem melhores condições de vida e de trabalho. Notem:
há tempos as mulheres reclamam dos homens...
Aguarda-se, a qualquer momento, um levante
contrário ainda mais substancial, no qual as mulheres hão de exigir uma trégua
à modernidade, metendo o pé no freio, engatando uma marcha a ré, dosando os
inúmeros afazeres, a fim de proporcionar um cotidiano mais razoável, menos
estressante. Em matéria de infarto do miocárdio, elas estão empatando com a
gente...
Mulher, única criatura do universo capaz de
sustentar as multi-tarefas: trabalho fora do lar, trabalho dentro do lar,
estudo, procriação, cuidados aos rebentos e ao parceiro (leia-se “com ele ter
intimidades, rotineiramente, ainda que não esteja tão disposta aos jogos
amorosos quanto se desejaria”).
Valadão — mais conhecido nos meios
políticos, nos prostíbulos de luxo e nos cassinos subterrâneos da cidade como
Dandãozinho das Moças, já sabe bem o que fará para comemorar a data. Aproveitando
que a esposa viajou para visitar o pai que está morrendo de câncer, Valadão
mandou entregar à esposa, logo cedo, uma completa cesta de café da manhã com um
bilhetinho escrito assim “Amo-te”. “É batata”, ele comenta e recomenda.
Por outro lado, encomendou também ao
Valadares — assessor de um Deputado Federal famoso pelos recrudescentes
discursos homofóbicos e pregações religiosas arcaicas — duas gêmeas
asiáticas, preferencialmente muito jovens, a fim de realizar um menageatruá (ao
encomendar profissionais da fornicação ao colega de pôquer, Valadão exibiu os
seus parcos conhecimentos na Língua Francesa para se referir ao sexo-a-três).
“Pô, Valadão, você anda pedindo cada coisa
difícil...” (o assessor chamou as mulheres de “coisa”). “Fala com o deputado,
fala com o deputado...”, Valadão retruca em tom de brincadeira, como se
deputados fizessem mágica, como se fossem capazes de tudo, como se tivessem
todos os canais abertos, como se estivessem acima da lei, da ordem e das
escutas telefônicas.”
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