Nei Duclós, Revista Bula
"Birmânia era uma Shangri-lá cheia de
belezas e riquezas onde o povo vivia feliz, mas aí vieram os malvados e a
destruíram. O fato de o país ter virado colônia britânica no século 19
nem vem ao caso. A malvadeza é toda atribuída à raça malaia, mulata,
ditadora e truculenta, que tiraniza seus próprios iguais e persegue a sofredora
dona de casa birmanesa filha de general líder da independência que tinha sido
assassinado. Por sua linhagem, serve de imã para o movimento democrático que
se arrastou por décadas sem impedir que os generais da atual Mianmar dominassem
o tempo todo.
A Orquídea de Aço, Aung San Suu Kyi,
abandonou família para abraçar esse sonho que lhe caiu no colo depois de uma
vida pacata no exílio. Guindada ao primeiro plano diante das massas,
envolveu-se na luta e nunca mais saiu dela. Ficou afastada dos filhos e do
marido, que conseguiu colocá-la como candidata vencedora do Nobel da Paz em 1991. A comunidade
internacional nunca pressionou de fato a ditadura da Birmânia, tanto é que ela
se eternizou. Mas posa de politicamente correta no filme “The Lady — Além da Liberdade”
(2011), do mentiroso Luc Besson, um cineasta de ação/ficção que omitiu o
principal na sua hagiografia, como bem definiu a crítica: a de que a origem do
mal da Birmânia veio do Ocidente, que não pode posar portanto de vestal do
processo.
Enquanto a tirania é parda, a civilização
do Nobel e da música é branca. A Lady faz parte da elite birmanesa e casou com
professor de Oxford (que morre de câncer depois de anos de sofrimento com a
prisão domiciliar da esposa que virou líder). O eurocentrismo bizarro que
pontua o filme é um escândalo ideológico. Separa o mundo entre os bons, de pele
branca e seus coadjuvantes nativos orientais, e os maus, a pele escura ou de
marfim cercando olhos puxados frios.”
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