Eberth Vêncio, Revista Bula
"Eu nunca sonhei com você,
nunca fui ao cinema, não gosto de samba, não vou a Ipanema, não gosto de chuva,
nem gosto de sol" (Tom
Jobim)
Eu gosto também de me resfriar com as chuvas de verão.
Gosto da coriza, dos 40 graus de febre, de curtir ressaca brava e de preparar
fumegantes chás de boldo. De amarga, já basta a vida? Ao contrário das seriemas
e do resto da humanidade, eu gosto das cobras (porque, como eu, elas engolem
sapos).
Eu gosto de votar em políticos que adesivam o meu
carro com fotos, números e slogans, que encham semanalmente o tanque de
gasolina, e que coloquem créditos no meu aparelho celular. Eu gosto de acordar
bem cedo no domingo e votar no primeiro candidato cretino que me venha à mente.
Bom mesmo é vender o voto. Eu gosto de desfazer planos para o futuro, entende?
Eu gosto de provocar indignação, de gerar dúvidas. Eu
gosto de contrair matrimônio e dívidas. Eu gosto de adoecer só para ler as
bulas de remédios. Eu gosto de atestados médicos. Eu gosto de remediar. Eu
gosto de furar qualquer tipo de fila, desde que não sejam filas da puta, nem
filas para as câmaras nazistas para extermínio. Eu gosto do atual salário
mínimo.
Eu gosto de levar susto. Eu gosto do atendimento do
SUS. Eu gosto de hospitais, do cheiro do éter, de viajar na maionese, ser
acometido por colônias de salmonelas e pensamentos inovadores. Eu gosto das
dores do parto. Eu gosto da diarreia, da gonorreia e dos biscoitos embolorados
da Dona Neia. Eu gosto de comer hóstia, escargot e o pão que o diabo amassou.
Eu gosto de carregar bíblias sob o sovaco
para construir escolioses eternas. Eu gosto de suar a camisa em templos lotados
de crentes. Eu gosto de cerveja quente, de boi doente e de mulher da gente. Eu
sou como a maioria de vocês: eu gosto de me sentir diferente, embora que seja
igual a todo mundo.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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