Profissão: poeta



Eberth Vêncio, Revista Bula

Não sou alegre, nem sou triste: sou poeta.
Cecília Meireles

“Mesmo após tantos anos sem escrever um verso sequer, os amigos escritores chamam-me poeta. Seria só fase ou o meu fuso mudou definitivamente? Uma vez poeta, sempre poeta? Estaria o mundo carecendo tanto assim da lira, ao ponto deste pelejante clã de escribas selarem os portões da rima com seus cadeados de crepom, a fim de demoverem da fuga este vate dissidente? 

Nos dias atuais, declarar-se poeta é pior que se declarar culpado. E pior: quase ninguém acredita. Olham pro sujeito como se ele tivesse lepra. Não é lepra não, gente; é a letra, o verbo.

Conheci Antônio Carlos Piolho num jardim de inverno do Hospital das Clínicas, ocasião em que eu me graduava no curso de medicina e ele convalescia de uma fratura de pênis (Enverga, mas não quebra? Conversa fiada!), decorrente de uma desastrada tentativa de conjunção carnal com um travesti (desatento, ingênuo, louco, ele jurava fosse o sujeito “a mulher mais gata com a qual tivera feito amor nesta vida”), atrás de uma caçamba de entulhos na esquina da Rua Pegasus com a Caralho-de-Asas.

Comovido com o acidente e o sofrimento do cliente (suponho que Piolho tampouco soubesse que o “impressionante encontro casual” tivesse um caráter claramente financeiro), Turíbio (era este o nome de batismo da travestida Melanie Madona) colocou-o dentro do velho Fiat 147 e tocou para o Pronto Socorro do HC. Nunca é tarde demais da noite para se operar caridades.”
Artigo Completo, ::AQUI::

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