Livro cúmplice



Nei Duclós, Revista Bula

“O livro é cúmplice quando revela o que ninguém sabe. A narrativa nos empolga porque, acreditamos, somos testemunhas de segredos só a nós revelados. É como um tesouro escondido, do qual possuímos a exclusividade do mapa. O autor dormia em seu anonimato de papel antigo até que fôssemos lá abrir uma fresta na sua solidão e degredo. Levamos esse tipo de livro de maneira disfarçada, misturado a coisas comuns, como uma revista ou um impresso qualquer. Se formos flagrados, sacudimos os ombros e pegamos a brochura na ponta dos dedos, com desdém.

Aprendemos coisas como a palavra desdém nessa literatura que não deixou marcas, essa memória oculta, essa única edição sobre o que para sempre foi perdido. Ninguém pode desconfiar do que trazemos embaixo do braço como se fosse uma côdea de pão. Exatamente, côdea é também esse tipo de palavra enterrada em páginas esquecidas. Nós, os leitores oblíquos, costumamos ler obras atiradas no tempo, antes que descubram o quanto é cult, ou importante, ou fundamental.

No momento da descoberta, ninguém à vista sabe do que se trata. Você vira o mundo atrás de algumas pistas e não encontra uma só pegada de uma possível leitura. Então, satisfeito, embaixo de cobertas, na curva do quintal, na praça vazia em feriado, você abre, trêmulo, aquela mina anônima, aquele território sagrado onde somos ouvintes de sinetas, passos em castelos, sons de metralha.”
Artigo Completo, ::AQUI::

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