Eberth Vêncio, Revista bula
“Nestes tempos bicudos em que quase ninguém mais envia
e recebe cartas, e que as únicas visitas que recebemos em casa são de oficiais
de justiça e das equipes de combate à dengue, chegou-me pelo correio eletrônico
uma longa e impressionante mensagem, uma espécie de manifesto redigido por um
meu leitor desconhecido.
Ele clama que a mensagem seja replicada aos meus
contatos, que é exatamente o que eu faço agora. Aliás, aqueles que não se
sentirem de forma nenhuma feridos nos brios, bem que poderiam colaborar também
com a divulgação do tal texto, o qual poderá representar uma baita oportunidade
de negócio para muitos. Eis o texto, queridos leitores. Abre aspas:
Não. Não vou negar. Não farei como Pedro que, por três
vezes, a despeito das advertências futurísticas do Nazareno, negou que o
conhecesse aos truculentos soldados de Roma. Também não me arvorarei no cinismo
populista de se negar mensalões: “Eu não sabia de nada...”, quá! Da mesma
forma, não recorrerei à covardia de um caubói Bush, ao insistir que, sim, havia
sim armas de destruição em massa mocosadas por Saddam Hussein no Iraque.
Não, irmãos. Não vou tirar o meu da reta. Aliás,
colocá-lo-ei, agora mesmo, aqui, neste espaço, para que todos tomem a devida
ciência, para que soe aos quatro cantos, a transpor as fronteiras, a dispensar
os afazeres de inquéritos, grampos, delações premiadas e Comissões
Parlamentares Mistas de Inquérito: moçada, eu tô colocando o meu na reta!
Além do apego indisfarçável à fama e notoriedade, estou
precisando demais de dinheiro. Aviso, portanto, aos interessados que, a partir
deste momento, entrego-lhes o meu corpo, ao lance inicial promocional de vinte
mil patacas mais uma bacia zincada tamanho G e dez bisnagas de gel de
minâncora.
Festejado jirau das futilidades, a internet prestou-se, recentemente, ao “Leilão da Virgindade” de jovens “cabaço”, que é o termo chulo que utilizamos, toscamente, na cidade de onde eu provenho. Não dá para imaginar que criatura energúmena e mal amada pagaria cerca de um milhão e meio de moedas para copular com alguém sem qualquer experiência sexual. A mim parece um investimento dos mais desmesurados, típico de quem trepa mal. Sexo é andar de bicicleta, irmã: melhora-se com a prática.
Festejado jirau das futilidades, a internet prestou-se, recentemente, ao “Leilão da Virgindade” de jovens “cabaço”, que é o termo chulo que utilizamos, toscamente, na cidade de onde eu provenho. Não dá para imaginar que criatura energúmena e mal amada pagaria cerca de um milhão e meio de moedas para copular com alguém sem qualquer experiência sexual. A mim parece um investimento dos mais desmesurados, típico de quem trepa mal. Sexo é andar de bicicleta, irmã: melhora-se com a prática.
Antenado às tendências esdrúxulas e rasas da sociedade
de consumo, a qual é auto-carcomida, tamanha a sua imbecilidade, eu também
decidi levar alguma vantagem nesta zorra. Cansei do papel do certinho, da
estirpe de bom rapaz. Logo: às cucuias com a idoneidade!
Moreno alto, bonito e sensual. Talvez, eu seja a
solução dos seus problemas. Carinhoso, bom nível social. Inteligente e à
disposição prum relacionamento íntimo e discreto. Realize seu sonho sexual. Pra
qualquer tipo de transação, sem compromisso emocional, só financeiro. Realize
seu sonho sexual. Sigilo total. Sexo total.
Já que perdi a velha compostura (conforme dizia Tia
Genoveta em relação aos políticos de sua época) e despossuo, a partir de hoje,
o mais ínfimo escrúpulo, copiei o parágrafo acima de uma canção antiga chamada
“Amante Profissional” (Herva Doce, 1982), que sacudiu a geração dos anos 80,
período em que o rock nacional (que, de rock mesmo, tinha praticamente nada)
dominava o mercado fonográfico.
Eis o meu perfil: sei que pode parecer baixeza moral
mas, eu meço um metro e oitenta de estatura, não sou nem tão bonito, nem tão
sensual como diz a referida letra da música, porém, vocês bem sabem, internet e
internautas engolem qualquer coisa. Nesta seara virtual, o vomitório é
espetacular e a curtição da audiência é generalizada. Dá até pra se sentir meio
intelectual ao se publicar baboseiras na rede. Não adianta reclamar: cada um
tem o blog que merece, companheiro. Ou seja, pimenta no blog dos outros é
refresco.
Talvez, eu não seja a solução dos seus problemas, mas,
o cachê, posso assegurar, resolverá todos os meus, exceto os tangentes à
dignidade. Mas isso já é outro departamento. Mais tarde eu me arrependo e me
entendo com Deus, Doutora Carlota (a terapeuta) e a mamãe. Remorsos de última
hora sempre destravaram os portões do paraíso.
Continuando: sou, sim, uma pessoa muito carinhosa
(perguntem ao meu rottweiller, seus cães!), de bom nível social, com curso
superior, embora, a autoestima inferior. Inteligente é pouco: sou mais esperto
que a maioria dos deputados. De outra sorte, não estaria aqui leiloando o
próprio corpo que, garanto, no que tange às vias posteriores, é absolutamente
virgem de fornicação, exceto aquelas de natureza hipocrática, desferidas com
fins humanitários, pelo bom Doutor Jivago, um grande urologista de mãos pequenas.
Glória a ti, Senhor!
Declaro que, sim, estou, sim, a fim, à disposição, não
somente para um relacionamento íntimo e discreto, mas, acima de tudo, uma
prestação de serviços da maior qualidade, que é o que demanda a sociedade
consumista perfeccionista moderna (satisfação total ou o seu dízimo de volta),
com direito à meia-luz, vinho espanhol de safra antiquíssima, CD do Barry
Manilow (estarei desatualizado quanto aos cantores românticos da hora?) e
toalhinhas higienizantes com aroma de pêssego ou alfazema (a escolha é sua).
Realizar sonhos. Que ser humano, afora os mentecaptos,
ousariam deixar de sonhar? Até mesmo os miseráveis à beira do abismo
existencial sonham com um pedaço de corda para um ato derradeiro, o último nó. Quem
sou eu para inibir o sonho de outrem?! Sonho, sim, madame, como sói ocorre à
maioria de vós. Tal e qual um efeito manada, eu vislumbro um futuro melhor,
confortável e feliz, ou seja, acima do extraordinário poder do amor, eu
acredito no poder ordinário do dinheiro, a razão maior de viver e que move
cerca de 90% da humanidade a acordar pela manhã todos os dias, urinar na
latrina e sussurrar: obrigado, Senhor, por mais um dia!
Mas, falando em negócios, mais ainda em negócios,
prossigamos, pois este manifesto já se aproxima do fim, assim como o efeito
verborrágico do álcool e a vossa paciência franciscana. Não sou homem que se
acovarda nos momentos de crise. Não. Não sou daqueles que, surpreendidos pelas
pedras drummondianas do caminho, tiram os seus da reta. Ao contrário, estou
colocando o meu na reta, chapas!
Declaro aberto mais um lascivo leilão da mediocridade.
Em vossas mãos entrego o meu corpo para o mais completo deleite. E que Deus e
mamãe me perdoem. Já a Doutora Carlota Joaquina, esta não. Doutora Carlota só
precisa mesmo é do meu cheque. Acesse www.internetaceitatudo.com.br e saiba
mais sobre o menos.
Fecha aspas.”
Comentários