Paulo Costa Lima, Terra Magazine / Blog do
Paulo Costa Lima
“Essa expressão de aparente cortesia sempre
me doeu no ouvido, porque para piorar as coisas, eles, os americanos, abrem o
bico e entoam uma melodia toda especial quando a utilizam.
É mais do que melodia, é um gesto
performático com a palavra ‘good’ lá no agudo abrindo as cortinas do ouvido
alheio, e o resto embicando numa descida abrupta para uma cadência no grave:
‘for you’.
A minha sensação de habitante da língua
portuguesa é que toda a energia positiva de uma suposta comemoração, de algo
que merece reconhecimento, desaparece nesse final esdrúxulo.
A alegria e o reconhecimento ficam
delimitados em torno da própria pessoa e simplesmente murcham. Qual o sentido
de delimitar a alegria e o reconhecimento na redoma da individualidade? Ora,
essa pergunta toca diretamente na idéia de ordem simbólica.
Nunca interagimos simplesmente com outros,
há uma complexa rede de pressupostos mediando essas interações. E é uma rede
sutil, virtual mesmo. Só existe na medida em que os falantes agem como se ela
existisse. Para os lacanianos esse mediador invisível é o Grande Outro.[i
A adoção generalizada da expressão ‘good
for you’ demonstra a construção de uma sociedade onde as fronteiras do
indivíduo — para o bem ou para o mal — são declaradas intransponíveis. Onde a
alegria do outro não me pertence.
Mas toda essa linha de análise parece
esbarrar no fato de que, com relação ao mundo dos grandes feitos, a relação dos
americanos com os relatos fantásticos dos filmes, das guerras e dos esportes
mostra uma carga intensa de identificação com os heróis. A alegria do herói, ao
contrário da do vizinho, é “vivida e compartilhada” por milhões.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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