Eberth Vêncio, Revista Bula
"Note que o trânsito na cidade já melhorou
sobremaneira. O povo arrumou as malas, pegou a estrada, vai cair na folia.
Prepare-se para desaproveitar o carnaval sem sentir culpa: sacie-se com as
migalhas; anote no verso da duplicata bancária que vence em março o que não
fazer (e desfazer) no feriadão que se avizinha.
Ponha tento: admire o corpo da vizinha.
Deixe o carro na garagem. Ande de ônibus e pague os pecados. Experimente ler
uns versos enquanto chacoalha. Se sentir enjoos, vomite a coalhada matinal com
rimas ricas sobre os romances comerciais de conteúdo pobre. Visite um sebo,
adote um livro. Visite um asilo, leia um velho nas entrelinhas. Aprenda com os
mais novos o que não se deve fazer jamais.
Plante uma muda de árvore na rua da sua
casa. Case, mude de endereço ou compre uma bicicleta. Não dispense a feia
Anacleta: em feriados prolongados fica difícil arrumar um par.
O por do sol entre as torres da cidade é
ímpar: aproveite sem moderação mas, cuidado com as balas perdidas e com o
excesso de monóxido de carbono na atmosfera. Nota do editor: há tanto cianeto
nas ruas quanto nas boates em
chamas. Vá ao cinema, beije de língua. Permita que as
decepções amorosas morram à míngua.
Lustre a mobília. Limpe as coronárias.
Cuide do seu coração. Evite frituras. Derreta as gorduras. Coma quem você
quiser. Se você não gosta nem de homem, nem de mulher, não há mais por que
chicotear o próprio lombo. Arquive os seus recalques em local apropriado: no
limbo de todo esquecimento.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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