O que o povo gosta


Leila Cordeiro, Direto da Redação

O poder da TV sobre as pessoas é tão grande que até mesmo quem nela já não trabalha é tratado como se fosse entrar no ar dali a instantes. Eu explico e tiro por mim a experiência. Onde quer que eu vá, tem sempre alguém que já acompanhou meu trabalho no Brasil e pede para que eu analise o momento e o impacto da TV aberta brasileira na vida do público.

Confesso que, no início, sinto-me retraída e até um pouco temerosa de meter a colher num bolo do qual já fiz parte, mas depois vem a sensação de que, com a experiência vivida na telinha por tantos anos, posso perfeitamente fazer uma análise isenta do que vem ocorrendo sob a minha ótica, sem necessariamente ser uma verdade absoluta pra todo mundo.

Dentro do possível, mesmo morando nos EUA, vejo regularmente TVs brasileiras, já que, graças aos satélites, as temos em qualquer lugar do mundo hoje, evidentemente com horários e programação adequados a cada região. Mas, como não vivo muito longe e num fuso horário de pouca diferença, dá perfeitamente para me sentir “em casa” para comentar a programação das emissoras brasileiras.

Confesso, mais uma vez, que não consigo entender a volta dos programas de baixaria, com lavação de roupa suja em público, como se isso representasse realmente um reality show. Só que tudo soa tão falso que nós, telespectadores, nos sentimos enganados, mas não desistimos, vamos até o fim para descobrir qual o limite do ridículo pela busca de audiência.

Nas emissoras que vivem lutando para se manter num nível aceitável nos números no Ibope, existe muita igreja pagando alto por espaços em horário nobre, baixo nível de pseudo justiceiros de butique e apresentadoras buscando credibilidade quando a cultura não passa de um decoreba oportunista dos assuntos do momento. E aí, como buscar a tal vice-liderança que tanto apregoam quando a soma de todas não chega aos pés daquela que chamam de líder?

Pareço pessimista demais analisando a TV aberta de um país que está às vésperas de sediar os mais importantes eventos esportivos do mundo. E talvez os leitores me cobrem uma anáise mais justa, pelo menos , em relação à Globo, que, apesar de tudo, segue mais líder do que nunca, não tanto pela sua competência mas pela incompetência das demais. Parece que estão todas acomodadas em suas posições e dali não pensam em sair.

Li estes dias na internet sobre o encontro do “Vem aí” global. E posso garantir que senti a sensação de um deja vu de décadas, quando ao lançar sua programação a Globo manda um recado, nas entrelinhas, mais ou menos assim: “Este é o mundo real, o que acontece lá fora não interessa. É sob nossa ótica e nosso enfoque que as coisas e tendências devem ser absorvidas e seguidas pelo povo brasileiro. O que interessa são as histórias das nossas novelas, o que realmente importa é a visão política e econômica dos nossos articulistas e os textos pragmáticos e distantes da realidade lidos pelos nossos teleapresentadores”. Pelo menos a mim, essa é a impressão que fica.

Portanto, aos que me pediram para comentar, devo dizer que é difícil falar sobre a mesmice de todos os anos. Nada de novo no front televisivo e a grande novidade é um programa que está no ar há 13 anos, o tal Big Brother Brasil, que mal terminou e já anuncia a realização de teste com candidatos para a próxima edição daqui a um ano.

Mas como dizem que as emissoras fazem o que o povo quer ver, prefiro botar as barbas de molho, embora não as tenha, e sair de fininho. Fui.”

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