Eberth Vêncio, Revista Bula
“Eu saquei que tinha morrido quando comecei
a cruzar por um monte de gente que tinha desaparecido antes de mim. Eu não
somente vi a famosa luz branca ofuscante no final do túnel, como a trespassei,
mergulhando na brancura de um descampado que, certamente, seria o Paraíso. No
início, fiquei meio intrigado. Eu merecia céus?
Tão acostumado à competitividade da vida
terrena, não me deparei com nenhuma banca examinadora das almas novatas,
supostamente responsável pelo escrutínio dos desencarnados nos portões do
Paraíso. Pensei em alma, pensei em carne, e senti uma vontade profunda,
profana, de comer um belo espetinho de picanha. Mas continuei a minha célere
caminhada rumo à eternidade.
Nada de São Pedro, muito menos Deus e
Menino Jesus. Ora, era querer demais ser recepcionado pelo pessoal do alto
escalão do Além, logo eu, uma ovelha desplugada das igrejas e que tantas
punhetas engendrei em
plena Semana Santa. Lembro-me perfeitamente de ter comido as
fotos de Rita Cadilac numa Sexta-feira da Paixão (Sangue de Cristo tem poder!).
É isso mesmo: esse povo do Céu sabe de um tudo da vida da gente.
Senti um alívio malandro ao constatar que não
teria o meu prontuário lido, relido e comentado em voz alta pelas entidades
abalizadoras do Céu. Se eu entrara direto assim naquele seleto recinto, sem
precisar pular catracas ou me esgueirar, é porque eu era um cara gente boa pra
caramba (sem notar, eu acabara de cometer mais um pecadinho de soberba).
Assim que pisei o solo branco do Éden,
pensei: “Putz, vou conhecer Elvis e John Lennon pessoalmente”. Sabe leitores,
quando se entra no Céu pela primeira vez, ficamos meio atordoados,
assoberbados, autoconfiantes, metidos a besta mesmo.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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