Rodolpho
Motta Lima, Direto da Redação
“Penso que um
dos grandes embrulhos ideológicos do pessoal da direita passa pela sua absoluta
convicção de que o individual vale mais do que o social. Essa
tese despreza o coletivo como agente, mas adora vê-lo como paciente -
alienado e inerte. A direita cultua personalidades, valorizando os “que
se fazem por si mesmos”, os “empreendedores”, os “que fazem diferença”. Ela
precisa disso para justificar os bilionários, os especuladores, os banqueiros e
todos os que, no mundo do capital, são apresentados como pessoas únicas,
diferenciadas, até beneméritas. Afinal, o que seria desse bando de empregados
sem essa elite de empregadores?
Na ânsia de se
promover o sucesso individual a uma categoria paradisíaca, não raro se
elevam nulidades à condição de mitos, privilegiando – bem ao gosto dos tempos
que correm – narcisismos e egocentrismos, que fogem do social como o
diabo, se existisse, fugiria da cruz...
Acontece que os
ídolos, esses super-heróis que povoam os noticiários do cotidiano,
podem ter – e não raro têm , porque sua natureza é humana –
momentos de “pés de barro”. Aí, é preciso um esforço incrível da turma
para desconstruir o que construiu, às vezes com sofismas, meias verdades,
manipulações e omissões. Quem conhece bem a história recente da terra do
Super-Homem, do Batman, do Homem-Aranha, do Homem de Ferro, do Indiana
Jones, do Rambo, do Rocky e similares sabe das alianças que o império
estadunidense manteve , ao sabor de conveniências econômicas, com diversos
ditadores que, não mais que de repente, de grandes líderes mitificados
foram transformados em agentes do mal. Para ficar apenas em dois
exemplos marcantes, é só estudar a trajetória de um Saddam Hussein , de um Bin
Laden, e suas ligações com os EUA.
Quando estava pensando nesse
tema, me veio à lembrança uma canção entoada pela Marina (a cantora, não a
Silva) e de autoria do Erasmo Carlos, chamada “Mesmo que seja eu” ( Veja o vídeo ) O contexto da letra da composição nada tem a ver com meu assunto aqui,
mas um dos seus versos (“Um homem pra chamar de seu”) me pareceu um bom título
para este artigo.
A direita, nacional ou planetária, precisa sempre de um homem
– às vezes uma mulher – para chamar de seu (sua). E é tal essa sua “crença”,
que mitifica a torto e a direito. A ironia é que faz isso até para denegrir.
Entre nós, ela quer que se acredite que o Brasil recente só trilhou
os caminhos que trilhou porque um homem cheio de defeitos , mas “carismático”,
conduziu os brasileiros. Não acredita em forças sociais. Por isso, atribuiu à
Dilma (que não tinha “carisma”) a condição de “poste”, e está se dando mal,
pois o que o povo valoriza hoje no país, queiram ou não, é muito mais uma
política voltada para o combate às injustiças , mesmo com eventuais
desacertos, do que esta ou aquela personalidade. Os índices de
popularidade da Presidenta vêm de um continuado trabalho de muitos e que atende
a anseios coletivos, mas nunca do exercício solitário de um comando.
A direita repete, agora,
esse mantra do “poste” no caso da Venezuela. Convenientemente cega diante dos
índices de redução das desigualdades naquele país, atribui o “bolivarismo” ao
fato de um “populista demagogo” ter empalmado o poder. Para ela, não há conquistas
a garantir, o povo é uma abstração, e como Maduro não é um Chávez, será fácil à
turma do capital recuperar o comando. Será? É o que vamos ver. Nada como os
fatos para contrariar os desejos...
A “metodologia do
endeusamento” adora criar falsos heróis, amplificados pela mídia, para esconder
o sistema que os cerca ou que eles representam. É por isso que as eleições na
pátria do individualismo, por exemplo, não se definem pelas ideias , mas pelas
pessoas. Uma cara simpática, uma família bonita e aparentemente bem
constituída, coisas assim elegem presidentes... E aí está Obama - cheio
de aparentes boas intenções, mas imobilizado por forças bem superiores às de um
indivíduo - que até agora não foi para frente nem pra trás, muito pelo
contrário...
O caso da eleição do Papa é
emblemático. Como não consegue , ou não quer conseguir, enxergar o estrutural,
o coletivo, a mídia que representa esse pensamento repercute, amplia e
supervaloriza os mais simples atos do novo mito, para muitos um
jogo para a plateia alienada, como ensina a boa e velha demagogia. É como
se quisessem impregnar nas mentes a ideia de que, agora sim, temos (?) Papa...
Mas será que um homem (falível ou infalível, não entro nessa) conseguirá, com
suas quebras de protocolo, reverter os tortuosos caminhos de uma Igreja
que tem, hoje, muitos de seus mais altos representantes envolvidos
em diversos pecados capitais? Implantará a “ficha limpa” no
Vaticano? Estão aí, nesse festival de “malfeitos” que hoje não dá mais
para esconder, escândalos de luxúria (pedofilia), ganância (Banco do vaticano),
inveja (disputas pelo poder), etc.
A direita assanhada já tenta emplacar
o novo Papa como “um homem pra chamar de seu”. Imagina-o como contraponto
ao que chama de “governos populistas”. Acho que, para variar, está dando
um tiro no pé. O ídolo pode ter os pés de barro. Outros, que ocuparam o seu
posto, já tiveram... Muitas mudanças já se fizeram na Igreja...para
deixar tudo igual. E aí se desconstruirá mais um mito. Mas, por outro
lado, pode ser que o simpático Papa resolva efetivamente fazer com que a
Igreja se volte para os pobres do mundo. Se isso acontecer, ele não poderá
jamais trilhar o mesmo caminho dos adoradores do mercado, dos especuladores,
dos exploradores do povo. E a direita terá que buscar, mais uma vez, um
representante para chamar de seu...”
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