Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação
“A história
serve para se entender melhor os fatos presentes. Por estas e outras, não
raramente setores conservadores tentam de todas as formas omitir ou mesmo
deturpar acontecimentos que marcaram época.
Um destes casos ocorreu no
continente africano, entre dezembro de 1987 e março de 1988, há 25 anos,
portanto, quando travava-se uma batalha que mudou o curso da história de países
como a África do Sul, Angola e Namíbia, com reflexos em outras nações. Trata-se
da batalha de Cuito Canavale.
Este fato histórico em que
lutaram ombro a ombro soldados cubanos e angolanos representou, segundo Nelson
Mandela, o início do fim do regime do apartheid. Um poderoso exército, cujo
país, a África do Sul, tinha até bomba atômica a seu dispor, foi derrotado nas
margens do rio Cuito Canavale, o que determinou a consolidação da independência
de Angola e a médio prazo também a desocupação e posterior independência da
Namíbia, que os racistas sul africanos imaginavam seria uma eterna colônia
explorada pelo capital e com mão de obra semiescrava.
A conjuntura internacional
da época era de enfraquecimento do mundo bipolar. A União Soviética, que tinha
sido a principal fonte de abastecimento de armas e munições para Angola, desde
a proclamação de independência do país africano, em novembro de 1975, se
afundava em uma crise que culminou com o seu desaparecimento no início dos anos
90.
A decisiva batalha de Cuito
Canavale continua sendo quase ignorada aqui no Brasil, porque os meios de
comunicação de mercado preferem o silêncio a ter de reconhecer que os militares
cubanos pelearam junto com as forças do Movimento Popular pela Libertação de
Angola (MPLA) e fizeram história.
Vale destacar também que
quando foram convocados pelos angolanos, as autoridades cubanas não só
responderam positivamente como disseram que seria uma forma concreta de
penitenciar-se pelos anos de escravidão.
Cuba, da mesma forma que o
Brasil, foi um país receptor de mão de obra escrava procedente da África, parte
dela oriunda de terras que hoje formam a nação angolana.
O Brasil e Cuba foram os
últimos países a abolir a escravidão.
Além da participação ativa
na batalha de Cuito Canavale, Cuba fornece há anos, entre outras ajudas
internacionalistas, contingentes médicos que circulam em regiões da África
totalmente desasistidas. É também uma forma de se penitenciar do que foi feito
no século XIX.
O Brasil, não tão
intensamente como Cuba, nos últimos anos tem de alguma forma se penitenciado do
passado de escravidão aproximando-se de países africanos. Na mídia pública,
através da TV Brasil, por exemplo, fazendo conhecer o continente africano aos
brasileiros com a presença de um correspondente fixo e através de programas
jornalísticos de boa qualidade, como o Nova África, um continente, um novo
olhar.
As quotas, tão combatidas pelos
que não reconhecem a desigualdade de oportunidades para com a população negra,
e que oferecem uma compensação, também são uma forma de se penitenciar do
passado de escravião, sem dúvida uma mancha na história brasileira. E uma
mancha que guarda reflexos até os dias de hoje.
Em termos de Brasil ainda é
preciso fazer muito mais para apagar a vergonha representada pela escravidão. É
necessário corrigir também a forma como ocorreu o fim da abolição, quando os
negros libertos não tiveram a assistência do Estado, resultando em reflexos até
os dias atuais.
Combate ao racismo
- É necessãrio também combater toda a forma de racismo ainda existente no
Brasil, seja contra os grupos étnicos negros ou indígenas. Neste caso, aqui no
Rio de Janeiro, a ação truculenta do Batalhão de Choque da Polícia Militar do
Estado do Rio de Janeiro para expulsar indígenas de várias etnias que viviam
desde 2006 na área do antigo Museu do Índio, não deixa de ser um exemplo
concreto de preconceito e racismo ainda existente contra um importante
contingente da nação brasileira como os indígenas.
E o que é pior, uma ação
violenta com o objetivo de ceder o terreno para a iniciativa privada com a
criação de um Museu de Desportos, em detrimento de um Museu da Cultura
Indígena, como queriam os índios. Além disso, o Governo do Estado do Rio de
Janeiro agora pretende criar também uma áerea de estacionamento para
automóveis, tendo em vista a Copa do Mundo de Futebol de 2004 e de quebra um
shopping center, como denunciam os movimentos sociais.
É de causar espécie quando a
Polícia Militar é acionada para servir interesses privados e para isso tratando
indígenas como se fossem bandidos.
Fez bem a Organização Não Governamental
Justiça Global ao apresentar uma ação na Organização das Nações Unidas contra a
truculência do Batalhão de Choque da PM que obedece ordens do Governador Sergio
Cabral.”
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