“Aquela não é terra para velhos. (…)
Um homem velho é apenas uma ninharia,
trapos numa bengala à espera do final.
Um homem velho é apenas uma ninharia,
trapos numa bengala à espera do final.
— William Buttler Yeats —, em “Velejando
para Bizâncio”
Penso às vezes que sempre padeci de algum tipo moderado de síndrome de Peter Pan. Moderado e possivelmente invertido. Na verdade nunca alimentei o desejo de ser indefinidamente uma criança, como é descrito na síndrome. Mas fui cultor da sensação de que a todo tempo me encontrava muito novo para arcar com certas responsabilidades, para assumir posições desafiadoras que a vida impunha. Parece que no fundo eu acreditava que, da mesma forma que aquele cavalo arriado estava passando, outros haveriam de passar, no momento mais propício, quando eu estivesse maduro, mais bem preparado.
Engano mais rotundo, o meu. A gente nunca
está pronto ou completamente preparado para os desafios da vida. A gente vai
aprendendo a domar a fera ao mesmo tempo em que se doma. Você pode até tentar
domar-se para depois afrontar os desafios. Mas quando os desafios se
apresentarem, o comportamento deles não será exatamente do jeito que você
imaginou no treinamento. Sempre vai restar uma necessidade, ainda que residual,
de domar-se, enquanto se doma o bicho. Ou seja, ninguém ensaia para depois
viver. Vive-se enquanto aprende e morre sem saber. Até porque quem diz que sabe
tudo e domina completamente um assunto, talvez esteja é carecendo de
informações adicionais.
Mas como eu disse, sempre me achei muito
jovem para determinadas coisas, para correr certos riscos, para chutar o balde,
ou o pau da barraca das imposições externas. Para dar um strike nas
circunstâncias adversas e depois reunir só o que convém. Fazer uma paretagem na
vida: jogar 80% no lixo e ficar com os 20% que realmente valem à pena. O filé
da vida. O que é pior em tudo isso é que ao me tornar um sexagenário, me vi de
repente demasiado velho para as coisas que até bem pouco me achava muito jovem.
Acho que passei da mocidade para a velhice, num salto, sem me ater ao ponto da
maturidade. Mas como diria Cydoidão, meu personagem de “Mundocaia”: Agora Inês
é Marta.”
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