“O ex-presidente FHC é considerando pela
ONU uma das pessoas mais inteligentes do mundo. Dentre os intelectuais de
alcance global, a revista “Foreign Policy” o classifica como um dos mais
influentes da atualidade. Se mais influente do que inteligente, ou vice-versa,
não vem ao caso. O que importa é que desta vez quero escorar meu artigo nas
ideias de um camarada que goza de altos conceitos nas rodas dos mais sábios do
mundo. Quero ver alguém falar que estou escrevendo bobagens.
Uma das ideias que tem jogado FHC nos
píncaros não é nem aquela badalada Teoria da Dependência, do tempo em que era
professor da Sorbonne, porque essa ele pediu que fosse esquecida, quando estava
no cargo de Presidente de República. FHC tem sido incensado ultimamente é pelas
posições que vem defendendo em relação às drogas.
A ideia parece bem singela, sobretudo para
quem ocupa os altares mais elevados da intelectualidade do mundo. Mas partindo
de FHC a coisa deve ter sua complexidade e alcance. Ele argumenta que a guerra
contra as drogas está perdida. Aqui e em toda parte. A saída, ele garante, é
descriminalizar e legalizar o comércio e o uso da droga. O próprio governo, ou
alguém por ele, vai fazer os serviços de importação que os traficantes fazem
hoje, manter funcionando as bocas de fumo, e toda a cadeia econômica do setor,
dentro da legalidade. Ninguém precisa ficar desconfiado, olhando de quina, para
puxar um baseado ou cafungar um carreirão. Essas atitudes farão parte da
liberdade individual, dos direitos essenciais da pessoa humana. Comporão a sua
dignidade. Logo o usuário deverá ser protegido pela segurança pública, caso ele
seja molestado, tenha um surto ou algum acesso de fúria, como efeito colateral
do barato. O fisco vai cobrar os impostos devidos e com isso custear o eventual
tratamento de algum usuário que se arrependa e não queira continuar no consumo
das estricninas.
FHC garante que ao retirar a droga, o
traficante e o usuário da clandestinidade estaremos a um passo da paz social,
porque toda a onda de crimes violentos relacionada à atividade drogueira haverá
de desaparecer, ou pelo menos amenizar a níveis toleráveis. Ou seja, o crime
não advém das drogas, mas das proibições que sobre elas recaem. O negócio não é
matar o setor, mas amansar, assim como nossos ancestrais do período neolítico
fizeram com muitos bichos que perturbavam a paz das cavernas: ao invés de
matá-los, domesticou-os. Bacana a ideia, não?
Por isso quero fazer uma derivação dessa
ideia de FHC para sugerir uma nova tratativa a um outro setor de crimes que tem
nos atormentado sobremaneira, que são os assaltos a mão armada e os roubos
seguidos de morte. Assim como as drogas, a guerra contra o crime de assalto
está perdida. Enquanto mais o Governo promete botar os bandidos detrás das
grades e libertar a população que vive presa, mais a criminalidade aumenta e a
população se tranca atrás de carros blindados, fortalezas, trancas e cercas
elétricas.
Agora que estamos às vésperas de eventos de
repercussão global, como o Encontro Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e as
Olimpíadas, temos que amenizar a atuação dos assaltantes, sob pena de nosso
país ficar muito mal-falado lá fora. Quem já foi assaltado (e quem ainda não
foi?) sabe que o momento mais tenso é o que separa a voz de comando de assalto
e a ação da vítima em conformidade com as ordens recebidas. É nessa hora que um
desentendimento, um ruído qualquer pode aumentar o estresse dos envolvidos e o
assalto evoluir para latrocínio. Até entre personagens da mesma língua, mas de
sotaques diferentes, o equívoco é muito suscetível. Quem não se lembra da velha
anedota do português que, ao chegar ao Brasil, o assaltante aponta-lhe o
revólver e ordena: pare. E o português retruca: ímpare. Mas agora nós vamos
receber gente do mundo inteiro que vai querer falar conosco é em inglês. A chance de um
assalto virar latrocínio entre falantes de línguas tão diferentes é
extremamente alta.
Daí a minha sugestão, derivada da ideia de
FHC, é descriminalizar e legalizar o assalto a estrangeiros. Porque, se punir,
o crime tende a aumentar. A primeira providência é botar os assaltantes na
escola de inglês. Para que não haja ruído na comunicação. Estabelecer e cobrar
impostos dos assaltos realizados para cobrir o custo da bolsa-idioma dos
assaltantes e impactar positivamente no nosso PIB que está empacado. Por fim,
fazer uma campanha no exterior sobre os nossos assaltos: adrenalina pura com
segurança total. Garanto que muita gente vai querer passar pela experiência.”
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