Eberth Vêncio, Revista Bula
“Num derrocado segundo domingo de maio — ao
que muitos homens sóbrios haveriam de condenar nada mais significava senão uma
baita oportunidade anual para que o comércio varejista incrementasse o seu
faturamento em vendas — um bando de mulheres abatidas de olhares paralíticos,
adentradas na maturidade, reúne-se num galpão qualquer, de endereço
desconhecido, deprimente e mal ventilado, que bem poderia se tratar de uma
fábrica falida, uma escola abandonada, uma igrejinha rejeitada pelos fiéis, ou
uma reles locação fantasiosa de um inventor de estórias.
Sentadas em semicírculo, feito um conclave
de bruxas aposentadas, a facção de velhotas amarguradas prossegue sua resenha
triste, em que cada uma das desatinadas ali presentes garimpa nos dicionários e
nos livros santos disponíveis quais sejam os adjetivos mais adequados para
descreverem, com os mister do amor infinito e da compaixão materna, os vieses
dos perfis notoriamente deploráveis dos seus descendentes: crápulas a serviço
do crime e da maldade.
Elas formam um grupo peculiar, uma legião
inédita composta, única e exclusivamente, por senhoras de coração partido, um
lote de mães profundamente afetadas pela malquerença, maledicência ou mau
comportamento dos filhos para com terceiros, criaturas estas consideradas intocáveis,
porquanto estivessem várias delas trancafiadas, ou mortas, ou desaparecidas, ou
viajando pelo Caribe a rirem da cara da justiça brasileira e dos contribuintes
bobalhões (neste último caso, delinquentes endinheirados em rota de fuga pelo
mundo).
Aquela renca de mulheres envergadas, por
mais incrível que possa parecer, encontra-se incapacitada para o choro, mas,
não para as lástimas (quem não se compadeceria das lamúrias de uma mãe
combalida?). Porque, chega uma hora, até lágrima de mãe seca, ao contrário da
esperança.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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