Isabella
Ypiranga Monteiro, Digestivo Cultural
“Marçal Aquino não poderia ter escolhido melhores palavras para
dar início à história arrebatadora do casal de amantes Lavínia e Cauby. O
título do primeiro capítulo de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos
lábios (Companhia das Letras, 2005), romance adaptado para o cinema no ano
passado pelos diretores Beto Brant e Renato Ciasca, sintetiza com precisão a
essência de um relacionamento tão impuro quanto o ambiente de guerra onde
nasce. O encontro dos personagens, a instável e sedutora ex-prostituta
"regenerada" pelo marido, pastor evangélico, e o fotógrafo
aventureiro, acontece no interior do Pará, durante uma acirrada disputa pelo
ouro entre garimpeiros e mineradoras. Em pouco mais de duzentas páginas, divididas
em quatro grandes partes, o paulista descreve de modo impecável a evolução de
sentimentos dos protagonistas, desde a atração puramente física até o mais
intenso dos amores, com direito a ilustrativos trechos eróticos que deixariam
os cinquenta tons de cinza de E. L. James enrubescidos. Jornalista experiente,
vencedor do Prêmio Jabuti em 2000 pela aclamada coletânea de contos O amor e
outros objetos pontiagudos, o autor recorre, diga-se de passagem, a um
truque original para delinear essa trajetória. Cauby, que narra a maior parte
do livro, cita com frequência frases antológicas de Benjamim Schianberg na
tentativa de justificar o que vai no seu coração. As pérolas de sabedoria do
filósofo fictício - que já virou, inclusive, tema de minissérie dirigida também
por Brant - e, quem sabe, alter ego de Aquino nos conquistam instantaneamente,
a ponto de desejarmos que ele e o seu O que vemos no mundo, espécie de
tratado sobre amor e sexo, existissem de verdade. Ou então que o próprio
escritor, inspirado por sua criatura, fosse um amigo íntimo com o qual
pudéssemos nos sentar em uma mesa de bar para pedir conselhos sentimentais.
"Queremos o que não podemos ter,
diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor.
É normal, saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta,
é o quanto cada um quer o que não pode ter.
Nossa ração de poeira das estrelas".
"Queremos o que não podemos ter,
diz o professor Schianberg, o mais obscuro dos filósofos do amor.
É normal, saudável. O que diferencia uma pessoa de outra, ele acrescenta,
é o quanto cada um quer o que não pode ter.
Nossa ração de poeira das estrelas".
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